A noite cai e várias cidades no país vão sendo povoadas por pequenas tendas para dar abrigo a quem o não tem. O perfil destas pessoas tem vindo a mudar. Atualmente, há muitos migrantes, mais mulheres, mais casais, casais com filhos e, até, quem trabalhe mas não ganhe o suficiente para pagar uma casa e todas as despesas inerentes. A crise vai atirando mais gente para a pobreza extrema que, no limite, acaba na rua.
As estatísticas oficiais mais recentes são de dezembro de 2022, ano em que o inquérito anual de Caracterização das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo sinalizou 10.773 casos — número em crescimento nos últimos anos — sendo o Alentejo, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) e o Algarve as regiões que registaram as proporções mais elevadas.
Se extrapolarmos para o espaço europeu, o cenário não é muito diferente. Nada menos do que 895 mil pessoas vivem em espaços de utilização pública, em abrigos de emergência temporários e outros locais precários. Esta estimativa – baseada em dados fragmentários e que apenas contabiliza as formas mais visíveis de exclusão habitacional – atesta a incapacidade dos países de fazer da habitação um direito fundamental. Todas as noites, na Europa, uma população equivalente à de uma cidade como Marselha ou Turim é privada de “casa”. Infelizmente, o fenómeno continua a aumentar na maioria dos Estados-Membros.
Aquando do lançamento da Plataforma Europeia para os Sem-abrigo, em 2021, foi assinado um compromisso conjunto de acabar com a exclusão habitacional até 2030. Desde então, a Comissão Europeia, os governos e diferentes partes interessadas estarão a tomar medidas para desenvolver a cooperação.
Esperança que nunca morre
Enquanto isso, a vida não espera e há todo um trabalho da parte da sociedade civil que está a ser desenvolvido para proporcionar assistência alimentar e distribuir roupa, calçado e outros recursos, de acordo com as necessidades evidenciadas por quem não tem teto.
A Legião da Boa Vontade (LBV) é uma das instituições que, quatro vezes por semana, ao início da noite, percorre as ruas de Lisboa e Porto para levar uma refeição quente, carinho, diálogo e outros apoios a quem deles necessita. Um gesto vital para aliviar as dificuldades enfrentadas por essa parcela vulnerável da população que conta com o suporte de parceiros de que a Trivalor é um exemplo.
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“A Trivalor e as empresas participadas são parceiras da Legião da Boa Vontade há mais de uma década e estão connosco de forma permanente. Não só nos doam sopa, kits de lanche (pão, fruta, sumos, bolachas), outros alimentos e até agasalhos, como também contribuem com o trabalho voluntário dos seus trabalhadores nas nossas rondas noturnas. É uma parceria efetivamente muito proveitosa para todos”, destaca Eloísa Teixeira, tem a seu cargo a Gestão Social da LBV Lisboa.
“Todas as primeiras sextas-feiras de cada mês juntamo-nos à Legião da Boa Vontade e distribuímos refeições que são preparadas por algumas das participadas da Trivalor, no entanto também apoiamos outras instituições para conseguir abranger todo o território nacional, incluindo as ilhas. Consideramos fundamental este envolvimento com acomunidade, pelo que tentamos sempre, ao longo do ano, participar nestas ações de cariz social”, explica, por sua vez, Miguel Santos, colaborador da Sogenave e voluntário Trivalor.
Isabel Lopes é voluntária Trivalor e colaboradora da B2B, outra das empresas participadas, e faz voluntariado há cinco anos. Diz já ter participado em “muitas voltas” que, para si, têm muito significado: “Sobretudo gratidão. A forma como as pessoas no agradecem é sincera, é um obrigado do coração. Participo nestas ações sempre que necessitarem de mim”.
A união entre instituições, empresas e voluntários demonstra que, mesmo diante de desafios complexos, a solidariedade pode iluminar os corações daqueles que lutam por uma vida mais digna. O compromisso constante de oferecer suporte e compaixão destaca que, enquanto não houver soluções estruturais, as ações individuais e colaborativas continuam a ser uma fonte poderosa de alívio e de esperança.
Ao contrário do que diz o ditado popular, “A esperança é a última a morrer”, nas palavras do presidente da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto, o lema é que a “esperança não morre nunca”.
Rondas da caridade da LBV-Trivalor em Lisboa e no Porto
A iniciativa surge no âmbito do Programa de Voluntariado da Trivalor, que se enquadra na Responsabilidade Social (RSC) enquanto espaço privilegiado de participação e ação na comunidade. Procurando uma ligação mais estreita e coesa entre empresa e comunidade, com o objetivo de contribuir para capacitação das comunidades locais, para um desenvolvimento equitativo e sustentável, e que ao mesmo tempo incentive os nossos colaboradores para o trabalho voluntário.
A refeição é produzida pela Gertal e ITAU, empresas de restauração coletiva, enquanto a Sogenave, empresa de logística e distribuição, fornece os kits de alimentos.
As doações chegam a meio da tarde à sede da LBV, em Lisboa e no Porto, onde são organizadas em caixas térmicas e preparadas para, às 20 horas, quando chegam os voluntários, estarem prontas a ser distribuídas no terreno, em locais estratégicos. Ao longo da noite, a carrinha vai percorrendo diversos pontos de cada uma das cidades onde, pela experiência, já se sabe onde se concentram as pessoas a precisar de ajuda e de conforto. Ao encerrar a ronda, por volta da meia-noite, cumpre-se mais um dia da nobre missão que leva solidariedade e alento às comunidades em situação de vulnerabilidade.
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