Sim, podemos ou sim, conseguimos?

O PIB cresceu 2,3% em 2023, mas não é suficiente para a convergência com a União Europeia.

As estatísticas divulgadas esta semana, relativas ao quarto trimestre de 2023, são animadoras para a economia portuguesa, mas o cenário cinzento para 2024 não permite leituras cor-de-rosa, apesar da revisão em alta de previsões do FMI para a economia mundial.
Portugal escapou da recessão técnica, com uma subida em cadeia de 0,8% do PIB (após a contração de 0,2% no terceiro trimestre) e de 2,2% em termos homólogos. O INE revela que, no conjunto do ano, o produto nacional subiu 2,3%, em linha com a previsão do FMI e acima das estimativas do Banco de Portugal (2,1%) e do Governo, Comissão Europeia, OCDE e Conselho das Finanças Públicas (2,2%), mas as contas finais de 2023 só serão conhecidas em final de fevereiro.
Para este ano, vale a pena recordar a previsão de travagem no crescimento, ou seja, o PIB lusitano só deverá crescer 1,5% ou até 1,2%, de acordo com as projeções do Banco de Portugal e da OCDE. No entanto, o FMI reviu em alta a previsão de crescimento da economia mundial para 2024 de 2,9% para 3,1%.
Mais importante do que analisar o comportamento da economia no ano passado (acima de 2%) ou projetar o PIB para este ano (pouco mais de 1%), devemos refletir sobre três desafios cruciais para duas a três legislaturas: 1) como conseguir um crescimento anual sustentado superior a 2,5% ou 3%; 2) o que temos de fazer para atingir essa meta, sabendo que somos uma economia sempre exposta ao exterior e que as políticas públicas devem fomentar o desenvolvimento mais saudável via exportações; 3) ter coragem e força política para resolver problemas estruturais e os chamados custos de contexto, ou seja, remover os obstáculos que identificamos no nosso caminho e que têm impedido crescimentos mais robustos, após duas décadas de quase estagnação (0,7%).
É por isso que, nesta edição, desafiamos dois ex-ministros da Economia de governos PS e PSD para debaterem propostas de crescimento para o país. Os economistas Manuel Caldeira Cabral (primeiro governo de António Costa) e Carlos Tavares (governo Durão Barroso) acreditam que é possível e desejável crescer mais de 2% ao ano, mas divergem quanto ao papel do Estado na economia, num debate para ver em Amanha.pt e Euronews ou ouvir em podcast.
A questão de fundo é saber se, nos próximos 20 anos, seremos capazes de sair do discurso do potencial “yes, we can” (para citar Barack Obama) para concretizar objetivos ambiciosos e exclamar “yes, we did it”, a frase de Bob, o construtor (e sua equipa de construção civil) que inspirou vários jovens que viam esta série de animação infantil há cerca de 20 anos.
Sugiro ainda as crónicas de Ema Paulino (saúde), Carlos Lobo (florestra) e Paulo Simões (lições de História para Gestão e liderança).