Queremos ser a Cuba ou a Califórnia da Europa?

Pedro Soares dos Santos critica a classe política que diaboliza a criação de riqueza. E recorda o pai.

Portugal é ainda o país do “balde dos caranguejos”? A imagem é relativamente conhecida: vários caranguejos foram apanhados e estão dentro de um balde, mas um deles consegue, com esforço e mérito próprio, alcançar o topo. Enquanto se prepara para dar o salto para uma vida melhor, os outros juntam-se e puxam-no para baixo, por inveja, em vez de ajudá-lo a sair ou aproveitar a oportunidade do empreendedor estar no topo e até poder ajudá-los também a subir.
Esta provocação surge a propósito de dois conteúdos desta edição (“Sucesso.pt” com o presidente do grupo Jerónimo Martins e debate “Sim ou Não” sobre Cultura) e de uma recente intervenção pública do presidente da CIP, no congresso “Pacto social: mais economia para todos”, que decorreu esta semana no Porto, reunindo centenas de empresários e gestores.
Armindo Monteiro partilhou a sua receita para sairmos das últimas carruagens do comboio europeu ou do tal “balde”: valorizar mais o mérito, mas sem individualismos excessivos; estar entre os mais pobres da Europa não é fatalidade; é urgente haver maior confiança, em vez de um clima de desconfiança e crispação social; gerar riqueza é o foco porque não é possível distribuir antes de criar e porque estamos há muito a crescer abaixo do potencial do país; todos estamos convocados para melhorar Portugal com líderes capazes e maior exigência dos cidadãos.
Esta reflexão junta-se às afirmações e respostas de Pedro Soares dos Santos, numa entrevista exclusiva que pode ver no “Sucesso.pt” e ouvir em podcast. O presidente do grupo Jerónimo Martins critica a falta de visão da classe política actual, alerta para os riscos de empobrecimento e envelhecimento em Portugal, numa economia que deverá registar um crescimento fraco nos próximos dez anos.
Num tom que recorda seu pai, Pedro Soares dos Santos não poupa os responsáveis políticos que diabolizam a criação de riqueza em Portugal, acusando-os de querer transformar Portugal na Cuba (em vez da Califórnia) da Europa. E revela a estratégia para a Polónia e Colômbia, onde o grupo JM cresce.
Melhorar o país com maior participação cívica implica maior aposta na cultura e na educação. Por isso, desafiámos JoãoNeto (presidente da associação nacional de museus) a debater com Nuno Artur Silva (ex-secretário de Estado do governo socialista) a importância do investimento na cultura, tema que tem estado ausente dos debates políticos, nestas eleições.
Recomendo as crónicas – que também pode ouvir no podcast “Pensar Amanhã” – de Maria da Glória Ribeiro (plano de sucessão nas empresas), José Ramalho Fontes (setor agroalimentar) e João Dias (territórios inteligentes). O combate por um país bem melhor vai muito além das próximas eleições e exige maior intervenção da sociedade civil, sem excessiva dependência do Estado e com lideranças com coragem e visão.

luis.ferreira.lopes@newsplex.pt