Helena Painhas “Nenhuma das caraterísticas para se ser líder é ser homem”

Nascida num mundo de homens, lidera uma das empresas de referência na área da energia. A empresária vianense, Helena Painhas, deixa a sua visão de liderança no feminino.

Como é ser líder e mulher num setor que ainda é predominantemente masculino?
Helena Painhas – Honestamente, na fase em que estou da minha vida, acho que é natural. Não é um problema, nem sequer é uma questão. Encaro isso com muita naturalidade, se calhar por causa do meu percurso de vida.
Ser líder é uma coisa complexa. Tem de se ter algumas características fundamentais e acho que nenhuma dessas características fundamentais é ser homem.
Sou a filha mais velha de cinco irmãos. Nasci numa zona onde os meus vizinhos eram quase todos rapazes e sempre tive uma ligação muito forte com o meu pai.
Fui muito educada e mentalizada de que o que os outros podiam fazer, eu também conseguia fazer. Desde muito novinha que o meu pai me criou uma certa autonomia e confiança de forma a eliminar todas as barreiras que eu tinha por ser mulher.
Cheguei a fazer surf, que também era um desporto mais de rapaz, em que participei em campeonatos e fui campeã nacional dois anos, e era a única mulher da seleção.

– Essa forma de lidar com as adversidades e o estilo de liderança veio muito da influência do seu pai?
HP – Sim, veio muito da educação do meu pai, que é uma pessoa empreendedora, que criou a Painhas, mais ou menos na altura em que eu nasci, em 1980. A ideia de fomentar a partilha, o espírito de equipa, fazer as coisas acontecer levando os outros comigo e ficar contente se chegamos todos ao destino, foi algo que eu, desde pequenina, sempre gostei muito. É este sentimento de proatividade, de positividade, de ter ambição para fazer a diferença, que um líder tem que ter e isso existe num homem ou numa mulher.

– Mas as mulheres representam menos de um terço dos cargos mais altos das empresas. Qual a sua opinião?
HP – Eu tive alguma sorte porque trabalhei sempre numa empresa familiar, ou seja, era a filha mais velha e acabei por entrar na empresa e subir. O facto de ser mulher nunca foi um problema interno para mim. O que eu vejo é que, muitas vezes, isso não acontece nas outras áreas.
Agora, cada vez têm aparecido mais mulheres, até noutros cargos. Faço parte de um grupo que é as “Mulheres para a Energia”, onde aparecem cada vez mais mulheres ligadas ao direito, à economia, às energias verdes. O setor da energia tem-se tornado mais feminino e mais sedutor também. Acho que as pessoas já começam a descomplicar e já não veem isso tanto como um setor de homens.

– Qual é a sua opinião em relação a quotas de género para cargos de liderança?
HP – Eu não sou muito a favor, mas consigo compreender que, como a nossa sociedade ainda é um bocado machista, essas quotas podem fazer falta numa primeira fase, para equilibrar as coisas. Mas, naturalmente, acho que uma pessoa deve ser líder e ir para a administração de uma empresa porque é bom. E nós somos boas.
As mulheres são boas. O que é muito importante é termos confiança e acreditarmos que somos capazes. Sentirmos que estamos de igual para igual. Se eu vou negociar alguma coisa e do outro lado está um homem, vai ganhar quem tiver os melhores argumentos e a melhor proposta. Não interessa se estou vestida de calças ou de saia.

– Como conjuga os papéis de mãe, esposa e líder de um grupo económico?
HP – Sou casada com um empresário também e nós vamo-nos revezando na educação das meninas. Hoje cozinho eu, amanhã cozinha ele. Hoje em dia, acho que cada vez mais existe essa partilha das lides da casa e da família, pelo homem e pela mulher.


– Alguma vez sentiu que a gravidez fosse um empecilho na sua vida profissional? Isso é muitas vezes usado como argumento na escolha de um homem, em vez de uma mulher, para o mesmo cargo.
HP – Aqui na empresa empregamos mulheres. Elas têm filhos, tiram as suas licenças e depois voltam. Cada vez mais também se vê homens a pedir licenças de paternidade. Em termos de empresa, isso para mim não é uma condição.
No meu caso, tive muita sorte, porque estive grávida na pandemia e consegui estar sempre em teletrabalho. Agora, gravidez também não é doença, não é? Desde que a gravidez corra bem, podemos trabalhar e depois tirarmos a licença a que temos direito.
Aqui em Portugal devemos aprender um bocadinho mais com os países nórdicos. Podemos perfeitamente ter um horário de trabalho compatível com a vida familiar, desde que trabalhemos bem nas horas de trabalho.

– Que mensagem gostaria de deixar às mulheres que também ambicionam chegar a cargos de topo?
HP – É fundamental que não se autolimitem, que tenham confiança em si próprias e no seu valor, que acreditem que conseguem e que se sintam seguras em avançar. É uma mensagem de confiança. Acho que a confiança e a fé são fundamentais para conseguirmos ter sucesso em qualquer papel das nossas vidas. É fundamental confiarmos em nós e sabermos que conseguimos lá chegar.