Álvaro Covões: “É preciso mais empresas de capital português”

Álvaro Covões, CEO da Everything is New, deixa a sua visão para o país daqui a 20 anos.

Como imagina o país nos próximos 20 anos?

AC – É talvez o maior desafio que vamos ter. Ou invertemos este modelo económico, em que os portugueses, em vez de serem cada vez mais pobres passam a ser mais ricos, e as empresas, em vez de serem cada vez mais de capital estrangeiro, são de capital português, ou então definhamos.

Vamos passar a ser um país de empregados de capital estrangeiro. Ou seja, é a nova forma de colonização. Quando chegámos e ocupámos, por exemplo, a África ou o Brasil, havia uns povos que viviam de uma forma muito primitiva. Nós não vivemos de forma primitiva, mas, sem querer, vamos ser colonizados porque (e não sou nada contra a vinda de estrangeiros ou de capital estrangeiro, não é isso que está em causa) não existe um desígnio nacional de ter uma economia de capital português com muita força.

Há partidos (nem sei quais, mas julgo que são todos de esquerda) que estão a trazer de novo o imposto de sucessões e doações. O imposto de sucessões e doações é um aceleramento da venda da propriedade portuguesa aos estrangeiros. Porque, quando as pessoas herdarem ou doarem, não vão ter dinheiro para pagar os impostos, vão vender. Quem tem dinheiro para comprar? Aqueles cujos governos deixam ter capital. E, portanto, é um aceleramento. Isto é uma coisa absolutamente extraordinária.

Nós, em Portugal, temos um defeito muito grande: quando pensamos nas coisas, pensamos sempre até meio do caminho. Não gosto que me chamem estúpido, mas, quando se está a discutir o problema da habitação em Portugal também me estão a chamar estúpido. Porque no dia em que decidimos (e não vou discutir se bem ou mal) abrir as fronteiras para termos imigrantes porque necessitávamos de trabalhadores, ninguém pensou no fator mais importante: onde é que eles vão dormir.

E se entraram 200 ou 300 mil, claro que temos uma grande crise de habitação. Já estávamos com uma pequena crise de habitação, só para os que cá estavam. Se isto aumentou 200 ou 300 mil, então isto implodiu e ninguém fala nisso.

Por isso é que é preciso mais cultura, para abrirmos a pestana e não nos deixarmos seguir por meias-verdades. De facto, Portugal faz muito isso; é sempre até meio caminho e depois esquecemos o resto.