Em 2024, não piorar o country branding de Portugal

Em 2024 já não será mau se não baixarmos no ranking do NBI (Nation Brands Index).

Portugal é a 20.ª nação mais admirada do mundo entre 62 países analisados pelo Anholt-Ipsos Nation Brands Index (NBI) 2023. Este NBI baseia-se em 60.000 entrevistas entre junho e agosto de 2023 em 20 países e mede o poder e apelo da “imagem de marca” de cada país “examinando as perceções globais de seis aspetos da identidade de um país” – a governança, a cultura, as exportações, as pessoas, o turismo, a imigração & investimento.

Com base nestas dimensões, é elaborado um ranking anual, agora na sua 15.ª edição. De 2017 a 2022, a Alemanha (atual n.º 2) era o país com melhor imagem de país neste relevante ranking. Em 2023 é o Japão.

Como bem nota a AICEP, “as perceções de um país são importantes porque ajudam a atrair investimentos, turistas, talentos e estimulam o comércio exterior”. Portugal destaca-se por ser um país amigável, ocupando o segundo lugar nesta dimensão, atrás apenas da Nova Zelândia. Com exceção do Japão, todos os outros países nos top-20 são países europeus, norte-americanos (EUA e Canadá) e da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia).

Este resultado foi provavelmente influenciado pelo universo de inquiridos. Custa a crer que o Brasil e a Tailândia não apareçam nele…


Uma parte significativa da imagem que cidadãos de outros países têm do nosso país advém da forma como projetamos a nossa imagem no exterior. Para este efeito, é crucial o trabalho desenvolvido pelas agências governamentais.

A promoção do turismo compete ao Turismo de Portugal, que tem desempenhado a sua função de forma globalmente competente nos principais mercados de origem dos visitantes. Compete à AICEP a promoção das exportações (em articulação com as organizações empresariais dos principais setores exportadores) e a captação de investimento; os resultados têm sido notáveis, sobretudo se se tomar em consideração os parcos recursos de que a agência dispõe – a retórica dos governos varia na razão inversa aos meios disponibilizados à AICEP.

Os bons resultados das exportações – que atingiram em 2022 50% do PIB nacional – refletem sobretudo um forte empenho de muitas empresas e associações empresariais para não ficarem dependentes do mercado doméstico ou aproveitarem vantagens comparativas do nosso país. No que respeita à cultura, pouco projetamos para o exterior.

Participamos em algumas feiras culturais, de livros a filmes e instalações. Apesar do evidente mérito de uma plêiade de criadores culturais, prevalece a gestão paroquial das capelinhas domésticas, também como resultado da gestão de recursos muito limitados.

Em relação às “pessoas” – o único fator que depende da imagem dos outros quando nos visitam – causamos boa impressão e somos conhecidos pela nossa simpatia. Relativamente a imigração, apesar de continuarmos a receber mais imigrantes – de que necessitarmos para repor o nosso défice demográfico – eliminámos de forma pouco prudente, e precipitada, mecanismos como os “vistos dourados” (ARI) para investimento imobiliário e o estatuto de residente não habitual com um discurso anti-estrangeiros que vai certamente produzir efeitos na nossa imagem como país acolhedor com um governo confiável.

Apesar de necessitarmos de muitos imigrantes para a agricultura, a construção civil, o turismo e inúmeros outros setores onde não temos mão de obra nacional disponível, continuamos a deixar num lamentável limbo de pendência o processamento de pedidos de residência e de vistos laborais, bem como a legalização de centenas de milhar de trabalhadores que são hoje uma das principais fontes de receitas da segurança social. A sucessão do SEF tem sido um embaraço que a todos devia envergonhar. A cereja em cima do bolo seria a chegada da extrema-direita xenófoba ao governo.

No que tange à governança, existia a imagem de um país estável. Conseguiu-se destruir essa mais valia. Em boa medida por inépcia e soberba no exercício do poder no último governo do PS, bem como pelo conflito desnecessário entre o PR e o governo/PS. Mas, também, pela “gestão” tíbia da PGR face ao clima de pré-guerra no interior do Ministério Público (MP) e à deriva de alguns procuradores justicialistas de braço dado com media sensacionalistas. Sendo ainda muito duvidoso que das próximas eleições legislativas possa emergir um governo estável.

A instabilidade política, associada ao receio de tomada de decisões de licenciamento ou similares (os autarcas vão reter na memória a forma miserável como o presidente da CM de Sines foi tratado pelo MP por questões abaixo de lana caprina e os responsáveis de agências públicas seguirão com muita atenção o que vai suceder ao ex-presidente da APA), deverão provocar, no devir próximo, o desvio para outros países de intenções de investimento de milhares de milhões de euros em projetos relevantes. Em suma, em 2024 já não será mau se não baixarmos no ranking do NBI.

Consultor e ex-Secretário de Estado da Internacionalização