A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, decidiu demarcar-se do seu antecessor depois da polémica da ida do partido ao Congresso do MPLA.
Cristas considerou necessário enviar um representante oficial do CDS quando o MPLA endereçou um convite pessoal a Paulo Portas. Foi uma das razões para que o CDS rumasse pela primeira vez a um congresso do partido de José Eduardo dos Santos, Presidente angolano. Os centristas não queriam ver o PS representado por um presidente, o PSD por um vice-presidente e Portas como única figura ligada ao CDS.
O SOL sabe que na direção do partido nomes como João Almeida e Adolfo Mesquita Nunes já haviam sugerido maior distância face ao regime angolano, na sequência da prisão do ativista angolano Luaty Beirão. Cristas concordou com o afastamento da doutrina de Paulo Portas naquela que é a sua primeira grande divergência. O antigo presidente do CDS tem um historial de ótimas relações com o governo de Luanda.
Aproveitar para reforçar liderança
Depois da gafe de Hélder Amaral no Congresso do MPLA («recebemos um convite e viemos a correr!»), Assunção Cristas vai utilizar o episódio para reforçar a liderança, afastando-a do legado ‘portista’.
Questionada sobre se a ida de Portas desagradou a Cristas, fonte do CDS garantiu ao SOL que «ela não interfere na vida profissional dele nem se deixa condicionar»: «É preciso não conhecer a Assunção para achar que é mulher para ficar dependente de terceiros».
O SOL sabe que a direção do CDS aguarda o regresso de Hélder Amaral para esclarecer declarações como «temos obrigação de ter relações com o MPLA» e lançar uma eventual retificação.
As relações entre Cristas e Hélder Amaral nem sempre foram as melhores: fonte do CDS revelou ao SOL que Amaral já boicotara visitas da líder a Viseu, o distrito do deputado. Nas eleições internas, Hélder Amaral não se assumiu como apoiante de Cristas e a sua preferência por Nuno Melo não era segredo. E o deputado não foi a primeira escolha para ir a Luanda: tendo família em Angola, a sua imparcialidade seria – e foi – frágil.
A ida ao congresso do MPLA acaba por ser a primeira crise no CDS com Assunção Cristas. Ribeiro e Castro considerou as declarações de Hélder Amaral «uma coisa miserável», Filipe Lobo d’Ávila sugeriu, ironicamente, que alguém da direção «possa interromper as férias e esclarecer». Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da juventude partidária do CDS, desmentiu as ideias de proximidade de Amaral, afirmando ao SOL que «CDS e MPLA são partidos antagónicos».
Portas: ‘Nunca dei trocoa polémicas internas’
Hélder Amaral já reagiu ao tumulto que as suas palavras causaram. Contrariando José Ribeiro e Castro, afirmou que o ex-líder «está sempre do outro lado». «Não retiro o que disse», acrescentou ontem.
Telmo Correia, vice-presidente do grupo parlamentar, retificou que o CDS quer relações com «todos os partidos». Os centristas também vão ao congresso do CASA, partido de oposição ao MPLA.
Em Luanda, Paulo Portas acabou por falar à imprensa ao final da tarde de ontem. Do seu ponto de vista, «defender os mais de cem mil portugueses que cá estão» deve ser a prioridade do Estado português. «É do interesse de Portugal ter uma relação boa e sólida com Angola» insistiu, saindo assim em defesa de Hélder Amaral. Portas lembrou: «Nunca dei troco a polémicas de natureza interna, muito menos a pessoas que até já saíram do CDS» numa clara referência à entrevista que Manuel Monteiro deu à edição de onte do jornal i. Monteiro, que já não é militante do CDS, acusou o partido de se ter rendido «aos interesses de Paulo Portas».