É impossível ficar indiferente à imagem de uma criança ferida, perdida no interior de uma ambulância, algures na Síria. A foto correu mundo e muito já se escreveu e escreverá sobre ela. Há um ano, aconteceu o mesmo com outra criança síria, afogada, que deu à costa numa praia turca.
O menino, de três anos, surgia de barriga para baixo e com os braços juntos ao corpo,vestia uma t-shirt vermelha, calções azuis e tinha os ténis calçados. A violência da imagem provocou acesa discussão e muito se exigiu então aos donos do mundo, sejam eles quem forem, para porem cobro à guerra que assola o país da criança.
Um ano depois dessa imagem, resta a memória da mesma. A guerra continua na Síria e as pessoas deixaram de se comover nas redes sociais com a mesma. Calculo que a esta hora sejam muitos os amigos dos facebooks que já tenham mudado a sua imagem substituindo-a pela da criança que esta semana foi salva dos escombros de um prédio de Aleppo, na Síria, e que foi fotografada no interior da ambulância por um grupo oposicionista ao regime de Bashar al-Assad.
Na verdade, todos sabem que nada vai mudar no imediato por causa de uma imagem. É certo que a consciência mundial se revoltou, nos anos 60 e 70, com a criança vietnamita a fugir nua de um bombardeamento de napalm dos soldados americanos, como também ficou perturbada com a foto da execução, a tiro e à queima-roupa, de um tal coronel Nguyen, aliado dos americanos, sobre um capitão Nguyen, que fazia parte das tropas vietcong que se opunham à presença dos EUA.
A divulgação dessas e de outras imagens ajudou a que o mundo, e os EUA em particular, tomassem consciência da crueldade da guerra e o regresso a casa das tropas americanas tornou-se inevitável.
Agora, Omran Daqneesh, de cinco anos, despertou o mundo com o seu olhar perdido coberto de pó e a cara ensanguentada. Não há gritos, nem falas. O seu silêncio pode ser comparado ao de milhões de pessoas que nada podem fazer para alterar o rumo da guerra. Omran encontrava-se num prédio que foi atacado pela aviação russa que luta ao lado das tropas leais a Bashar al-Assad.
Mas sabe-se que este conflito está longe de ter fim à vista e que não serão imagens como esta que alterarão o rumo dos acontecimentos. O mundo já se habituou a estas imagens, ao contrário dos tempos da guerra do Vietname.