A tentativa do Bloco de Esquerda de proibir a utilização do herbicida glifosato em Portugal abriu mais uma polémica entre o PCP e os bloquistas. O deputada comunista Miguel Tiago escreveu ontem, no blogue Manifesto 74, um texto com duras críticas ao Bloco. Miguel Tiago lembra a proposta do BE – chumbada no parlamento pela direita e pelo PCP há uns meses – para proibir o uso de glifosato em zonas urbanas e de lazer e garante que “houve quem lucrasse milhões com propostas desse tipo”.
No dia em que a Bayer anunciou que está quase fechado o negócio para comprar a Monsanto por quase 60 milhões de euros, o deputado do PCP começa por constatar que esta aquisição acontece “depois de ter sido levada a cabo uma campanha de alarme em torno do principal ativo da Monsanto – o glifosato”. A Bayer, por sua vez, explica Miguel Tiago, “tem vindo a colocar no mercado um substituto do glifosato”. Ou seja, afirma o parlamentar comunista, a Bayer “tinha um produto caro que visava substituir um produto barato. Agora, talvez o consiga fazer com o apoio da legislação feita ao sabor de interesses não anunciados”.
Críticas ao BE O deputado comunista lembra o empenho do Bloco em proibir o glifosato. “Se o BE recebeu ordens de alguém para propor em Portugal a proibição do glifosato, não poderemos saber, mas que houve quem lucrasse milhões com propostas desse tipo, lá isso houve. Criado o alarme em torno do glifosato, restou ao BE cavalgar o seu mediatismo e acusar os comunistas de defenderem a Monsanto e a utilização de produtos cancerígenos.”
Para o deputado comunista, “o caminho do BE estava destinado ao sucesso” porque “a Bayer comprou a Monsanto e prepara-se para substituir o glifosato pelo amónio-glufosinato, com publicidade de borla e honras de circo parlamentar. Mas hoje, hoje já ninguém quer saber. Porque a mesma comunicação social que elevou o BE a paladino do ambiente e da saúde pública não vai fazer a ligação entre a aquisição da Monsanto pela Bayer e o súbito alarme público em torno do glifosato”.
Sectarismo do PCP Não é a primeira vez que esta matéria leva a uma troca de acusações entre os dois partidos que apoiam o governo. Em abril, o PCP juntou-se à direita para chumbar o projeto dos bloquistas que proibia a aplicação de produtos com glifosato. Em resposta, o partido de Catarina Martins acusou o PCP de sectarismo. Nélson Peralta, dirigente do BE, defendeu que “o PCP não chumbou o projeto-lei porque a ideia era má. A proposta era má porque vinha do Bloco. É caso para dizer que o sectarismo faz mal à saúde”.
O PCP argumentou que “perante as dúvidas ainda existentes, têm de se realizar mais estudos”. Os deputados comunistas apresentaram no parlamento um projeto em que defendem a “constituição de uma comissão multidisciplinar permanente” para avaliar os riscos dos produtos contendo glifosato.
Para que serve o glifosato O herbicida é utilizado para matar ervas daninhas em terrenos agrícolas, mas também em passeios e jardins públicos. O produto é utilizado em Portugal por dezenas de autarquias. O glifosato já foi considerado “provavelmente cancerígeno” pela Organização Mundial da Saúde. O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, garantiu que o governo está a preparar legislação com o objetivo de retirar o glifosato de espaços urbanos e de áreas próximas de lares ou escolas.