A indecisão, e a responsabilidade

Prosseguiam ontem à noite (28 de dezembro) as negociações para a venda do Novo Banco. Há dois interessados: os chineses da Minscheng e os americanos da Lone Star. O último relatório enviado pelo Banco de Portugal ao governo não recomenda que se opte por este ou por aquele comprador. O que me faz lembrar várias…

É natural que os últimos euros estejam a ser discutidos entre o vendedor (o Fundo de Resolução) e os possíveis compradores, mas em algum ponto o processo tem de chegar ao fim. Isso já percebeu a Lone Star, que diz que no final de quarta-feira retira a sua proposta, deixando o Fundo de Resolução, o Banco de Portugal, o governo e os contribuintes nas mãos da Minscheng, isto por um punhado de euros.

Pode ser a personalidade dos negociadores portugueses que está em causa. Há dois tipos de personalidades, sendo que nenhum é superior ao outro (é como ser canhoto ou destro): há pessoas que tomam decisões muito rapidamente, mesmo que um minuto depois mudem de opinião e tomem a decisão oposta, e há outro tipo de pessoas que têm dificuldades em chegarem a conclusões, requerendo sempre mais informação. Se os nossos negociadores são pessoas com este segundo tipo de personalidade, podemos ter problemas; se, pelo contrário, forem negociadores com nervos de aço, isso será bom para o erário público.

Há uma terceira hipótese: os nossos negociadores perderem-se nos detalhes. Vou contar uma história dos meus anos de analista fundamental de ações, em Bruxelas. Lá como cá, quando se contratava uma pessoa, havia um período experimental de seis meses, ao fim dos quais o candidato poderia ser despedido sem qualquer indemnização. Basicamente, era uma formalidade, pois todos os que eram contratados ficavam. Certo dia contrataram um rapaz, um belga francófono (valão). Sempre que eu ia ao gabinete dele voltava de lá “verde” e desmoralizado: ele tinha no computador folhas excel enormes, de várias cores, onde fazia as previsões dele. E eu saia a pensar com os meus botões: “Mas que péssimo analista financeiro eu sou”.

Ao fim dos seis meses do período experimental foi despedido, o que foi um trauma para o nosso diretor (também ele um valão) que teve de o despedir (disse-me que não dormiu nessa noite), quer para o resto do departamento, pois isso nunca tinha acontecido antes. O ambiente ficou pesado. Qual era o problema deste rapaz das super-folhas de excel? Simplesmente, era incapaz de sintetizar.

Não sei ao pormenor o que se passa com a venda do Novo Banco. Sei, todavia, que já não deve ser feita este ano, e que a partir de quarta-feira só haverá um concorrente no concurso, o que lhe dará um poder de negociação acrescido. Por isso, seria bom que a equipa portuguesa de negociadores, liderada pelo ex-secretário de Estado Sérgio Monteiro, o homem que levou o metro ao aeroporto de Lisboa (faltavam 800 metros de linha, que durante décadas ninguém foi capaz de fazer…), chegue rapidamente a uma conclusão, e assuma a responsabilidade por ela.