PSD. Indefinição nas autárquicas acelera movimentações contra Passos

Rio não estará sozinho na sucessão a Passos Coelho. Paulo Rangel, Aguiar-Branco e Montenegro começam a posicionar-se nos bastidores e a contar espingardas.

Como num jogo de xadrez, as peças começam a mover-se para um xeque-mate a Pedro Passos Coelho na liderança do PSD. Peões, bispos e torres começam a posicionar-se num movimento que vai acelerar no início de 2017. A indefinição em torno dos candidatos para as principais autarquias é o pano de fundo que está a servir a Rui Rio para tentar ganhar protagonismo, mas na sombra há outros nomes a fazer contas: o futuro do PSD não se vai escrever sem Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco e Luís Montenegro.

Rio, Rangel, Aguiar-Branco e Montenegro perfilam-se para a sucessão a Passos e tentam já perceber com que apoios poderão contar caso avancem com candidaturas à liderança. “Nunca ninguém ganhou o partido sem antes ter perdido”, aponta uma fonte próxima de Rangel, que não afasta uma segunda candidatura do eurodeputado que perdeu para Passos Coelho em 2010 – um ano depois de Passos ter perdido para Manuela Ferreira Leite.

os generais Neste momento, todas as movimentações de bastidores concentram-se em perceber quem poderá estar com quem quando chegar a hora de disputar o lugar do líder.

Nomes como Miguel Relvas e Marco António Costa são considerados incontornáveis nestas contas. São vistos no partido como generais capazes de reunir as tropas necessárias para conseguir a eleição do próximo presidente do partido.

Para já, Montenegro sabe que conta com Miguel Relvas. Mas Marco António Costa ainda não deu um sinal claro sobre quem poderá apoiar e, apesar da proximidade que tem com Rui Rio, há quem acredite que o seu apoio poderá ir para outro candidato. Até ver, Rio não está a gerar grande entusiasmo no partido e isso deixa espaço de manobra para nomes como Paulo Rangel ou José Pedro Aguiar-Branco.

Nestas contas, Paulo Rangel pode conseguir alguma vantagem caso tenha o apoio de Marco António Costa, que tem um peso relevante nas distritais de Porto e Gaia, mas o apoio o seu colega eurodeputado José Manuel Fernandes pode ser também decisivo.

José Manuel Fernandes é líder da distrital de Braga, a terceira maior do país, e tem muita influência em Viana do Castelo e Vila Real. Há quem lhe chame o “vice-rei do norte” e os próximos de Rangel olham para ele como uma peça importante numa altura em que o anúncio da disponibilidade de Rio ainda não levou nenhuma distrital a anunciar de forma clara o apoio ao ex-autarca do Porto.

Rui Rio esteve esta terça-feira num almoço em Anadia que serviu para mostrar proximidade à distrital de Aveiro, ganha por Salvador Malheiro contra o candidato que tinha sido apoiado por Montenegro, num sinal de que está à procura de apoios. Antes, tinha estado em Castelo de Paiva também ao lado de Malheiro. O líder da distrital de Aveiro recusou ao Público a ideia de que isso se traduza num apoio, mas nesta altura nenhuma aproximação aos nomes que fazem parte da lista de putativos candidatos à liderança é vista como inocente no PSD.

O facto de o Congresso de 2018 ainda estar longe, de Passos Coelho ter ganho as eleições legislativas e de não dar sinais de se querer ir embora faz, porém, com que haja particular cautela na forma como dirigentes e militantes se posicionam sobre a liderança. Há ainda muitos que acham que Passos Coelho só poderá cair depois de ir às próximas legislativas e perder. Mas o certo é que a desorientação nas autárquicas está a deixar o PSD nervoso e não está fora de hipótese que uma pesada derrota aumente a pressão que já se faz sentir em torno da liderança.

psd nervoso Em Lisboa o ‘não’ de Pedro Santana Lopes deixou o partido desorientado e a distrital em divergência com a concelhia. A distrital inclina-se para o apoio a Assunção Cristas, a concelhia procura um nome e, pelo meio, o silêncio de Passos – que só deve anunciar um candidato no final de fevereiro – faz com que se multipliquem os nomes. O i noticiou ontem que José Eduardo Moniz e Laurinda Alves estão a ser testados para possíveis candidatos. “Desorientação” é, aliás, a palavra que mais se ouve no partido quando se fala das autárquicas de 2017. Porto, Gaia e Coimbra são apenas alguns dos exemplos de câmaras importantes nas quais, apesar de correrem várias hipóteses, teimam em não aparecer nomes fortes.

Os fracos resultados nas sondagens completam o caldo de cultura que serve agora para questionar Passos Coelho, mesmo que, pelo menos por enquanto, sobretudo em surdina.

Como se pode acelerar a queda de Passos Coelho na liderança? É possível que haja um Congresso do PSD antes de 2018? Sim. Segundo o artigo 15.º dos estatutos do PSD, “o Congresso Nacional reúne ordinariamente de dois em dois anos e, em sessão extraordinária, a requerimento do Conselho Nacional ou de 2.500 militantes”. Como o “SOL” noticiou, há apoiantes de Rio interessados em forçar a antecipação da reunião magna do partido. Um Congresso extraordinário serve para eleger um líder? Não.

Os Congressos do PSD já não são eletivos. Os líderes são escolhidos por eleições diretas. As reuniões extraordinárias do partido servem apenas para debater e podem ajudar a desgastar a liderança, mas só por si não fazem cair o líder. Como se podem antecipar as diretas? Não é fácil um candidato a líder destronar Passos Coelho. Ou Passos se demite ou só há uma hipótese: uma moção de censura aprovada no Conselho Nacional.

E isso é muito improvável porque esse é um órgão no qual o líder tem grande apoio, mas não é completamente impossível. Como funciona uma moção de censura? É preciso que pelo menos um quarto dos conselheiros nacionais a subscrevam e que seja aprovada por maioria absoluta no Conselho Nacional. O que acontece quando é aprovada uma moção de censura? O Conselho Nacional convoca eleições diretas para a liderança.

Cada candidato a líder tem de recolher 1500 assinaturas de militantes para formalizar a candidatura. Nas diretas votam apenas os militantes com as quotas em dia.É possível que haja um Congresso do PSD antes de 2018?