Escrevo este texto porque estou francamente irritado com o rol de críticas, nacional e internacional, que se seguiu à nomeação de Durão Barroso para Chairman (presidente não-executivo) da Goldman Sachs. Internacionalmente, ainda compreendo: tratar-se em boa medida de inveja por não ter sido escolhido um nacional para o lugar. Mas críticas internas?
Portugal, com os seus 10 milhões de residentes, é um país pequeno, mas não é um microestado. E uma maneira de superar a nossa pequenez é ter pessoas em lugares de influência. Temos Vítor Constâncio como vice-presidente do Banco Central Europeu. Estamos a preparar a candidatura de António Guterres à presidência da ONU. E agora vamos queixarmo-nos por termos um português na presidência da Goldman Sachs?
Da Goldman, sabe-se que nem sempre agiu correta e eticamente no passado, mas não deixa de ser um banco de enorme influência e poder. Diz-se, meio a brincar meio a sério, que são eles que governam o mundo. Será mesmo mau haver um antigo primeiro-ministro português na sua presidência ou será, antes, positivo para o país? É que, apesar dos dez anos passados em Bruxelas como presidente da Comissão Europeia, Barroso nunca deixou de ser português. Ou julgam que o momento das inéditas sanções a Portugal e a Espanha por excederem os défices orçamentais elevados não passa de uma coincidência?
Barroso vai ganhar dinheiro como nunca ganhou na vida. Mas, para nós, ter um português como presidente da Goldman Sachs poderá também trazer algumas vantagens.