A ambição da excelência – valorizar o sucesso, por Rodrigo Queiroz e Melo

Portugal foi dos países da Europa desenvolvida que mais tardiamente generalizou uma educação básica de nove anos a toda a sua população. Esta realidade explica, em parte, muitos dos nosso problemas e dificuldades estruturais. 

Quanto mais escolarizada for a população, melhor saberá ler as bulas dos medicamentos, maior facilidade terá em realizar operações cognitivas complexas, melhor habilitada estará para competir no mercado global com base no conhecimento e não nos baixos salários.

Ainda hoje, quando muitos dos nossos parceiros internacionais têm níveis de escolarização secundária da população acima dos 50%, Portugal ainda está a tentar que toda a população juvenil tenha 12 anos de escolaridade. Por isto, nas últimas décadas, o desafio magno do nosso sistema educativo foi o de trazer todos para a escola.

Neste contexto, os resultados dos alunos portugueses no TIMSS e no PISA, conhecidos no final de novembro, são especialmente importantes. Os nossos alunos do 4.º ano de escolaridade (TIMSS) e os nossos alunos de 15 anos (PISA) obtiveram resultados ao nível do pelotão da frente da OCDE. Mais, fizemos uma progressão admirável em 15 anos, sendo o país que mais ganhos obteve. Daqui resulta uma conclusão evidente: ganhámos a guerra da quantidade – todos na escola – e estamos bem encaminhados na guerra da qualidade – todos a aprender. Há ainda muito a melhorar, mas o que se tornou indiscutível é que chegámos a um novo patamar de resultados e podemos ambicionar chegar à excelência educativa.

E isto leva-nos à novidade de hoje: os resultados dos exames nacionais no básico e secundário. Há mais de uma década que os jornais publicam os rankings. Primeiro do ensino secundário, depois do ensino secundário e do ensino básico. Há mais de uma década que, após a saída dos rankings, metade do país se decida a explicar porque é que estes nada valem e nada explicam. Mas a verdade é que, há mais de uma década que as escolas e os pais olham atentamente para os rankings e tentam perceber os que se passa com a ‘sua’ escola. E, porque conhecem a sua escola, sabem contextualizar os resultados. Sabem dar os parabéns a quem, mesmo estando numa posição relativa modesta, demonstra enorme capacidade de superação ou pedir explicações a quem podia fazer muito melhor. E esta é a inultrapassável vantagem dos rankings: dar informação pública e clara sobre o sistema. Os resultados dos alunos nos exames podem a devem ser complementados com outros indicadores. Isso só favorece a transparência. Mas não vale a pena desvalorizar os resultados dos alunos.

O desafio de atingirmos a excelência educativa para todos exige mais autonomia das escolas, novos modos de organizar a ensinagem e uma nova abordagem à afetação de recursos às escolas. Mas exige, em primeiro lugar, que se aceite que quem está a trabalhar bem está a trabalhar bem e que o objetivo dos outros é trabalhar, pelo menos, tão bem como aqueles. Não é desvalorizando o sucesso que se é bem sucedido.

Rodrigo Queiroz e Melo  
{Diretor da Associação de Estabelecimentosde Ensino Particulare Cooperativo}