Costa é mesmo capaz de ter salvo o PS

O risco é o PS crescer demais, o que perturbará a harmoniada relação Costa-Jerónimo-Catarina-Arménio Carlosque governa o país

A s sondagens ontem divulgadas são extraordinariamente épicas para o PS – a atingir números próximos da maioria absoluta – e para Marcelo, com um índice de popularidade estratosférico. É verdade que todos os presidentes da República começaram bem, embora alguns tenham acabado mal. Mas a versão marcelista dos poderes presidenciais – extravasando-os com um enorme afeto – está a agradar ao povo. 

O caso do Governo é mais interessante porque o que tinha tudo para dar errado deu, miraculosamente, certo. Não era imaginável que PCP e Bloco de Esquerda aceitassem um programa que hoje é aplaudido na Europa devido ao «cumprimento escrupuloso» dos compromissos europeus. Não era expectável que a quarta força desta espécie de coligação – a CGTP – conseguisse acalmar ‘a rua’ de uma forma tão drástica. 

Costa era conhecido pela sua capacidade de conseguir acordos na Câmara de Lisboa – quando conseguiu fazer uma aliança com a ex-adversária Helena Roseta e com o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda, José Sá Fernandes. Mas nunca ninguém imaginou que alianças autárquicas fossem possíveis de transpor para o país. Um ano depois, Costa conseguiu a quadratura do círculo: a bênção dos sindicatos e das instâncias europeias. É quase uma contradição de termos – e as sondagens dizem que o país está a gostar. Hoje, o PSD e o CDS juntos não conseguiriam ficar à frente do PS sozinho e Passos vive um dos seus piores momentos políticos. Claro que as sondagens são sondagens e a Europa está cheia de imprevisibilidades, mas o desemprego diminuiu, aumentaram as exportações e a procura interna e foi possível melhorar o PIB. 

Há umas semanas, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, deu uma entrevista a este jornal onde afirmava que «António Costa tinha salvo o PS». A teoria é simples: ao contrário de todos os partidos sociais-democratas europeus, que se aliaram à direita (ou fizeram políticas de direita) e estão a definhar, Costa conseguiu captar a esquerda e até dizer qualquer coisinha de esquerda, coisa que faltava ao PS desde o tempo de Sócrates. 

O risco agora, para o PS, é o de crescer demais. Novas sondagens a darem maiorias absolutas vão perturbar necessariamente os parceiros que seguram o Governo. É melhor para o PS rezar agora para que as sondagens o ponham a descer um bocadinho, o suficiente para que a grande coligação Costa/Jerónimo/Catarina/Arménio Carlos que governa o país continue pacificada.