O Lado Oculto de Marques Mendes    

Quando a experiência visível não qualifica e a invisível não se explica, o eleitor fica apenas com desconfiança

Há experiências que se exibem em cartaz e outras que se escondem atrás da cortina. Marques Mendes escolheu resumir a sua vida pública num slogan respeitável – “O Valor da Experiência”. O problema é que, quando se acende a luz, percebemos que essa experiência tem duas camadas: uma visível, à superfície, e outra submersa, silenciosa, que nunca entra nos debates. Como num iceberg político.

A experiência visível é conhecida: décadas de presença, cargos, comentários televisivos, análises prudentes e opiniões sempre calibradas para não incomodar demasiado ninguém. Uma carreira longa, sim, mas curiosamente leve em resultados transformadores. Não deixou obra, não renovou o seu partido, não mobilizou o país. É, no essencial, um Professor Marcelo em versão “low cost”: sem cátedra, sem livros marcantes, sem a originalidade que faz a diferença entre ocupar espaço e deixar marca.

Mas é a outra experiência – a invisível – que provoca o silêncio mais ensurdecedor. Não porque esteja provada, mas porque nunca é esclarecida. É a experiência dos bastidores, dos corredores onde não há câmaras, das relações que não se explicam, dos interesses que nunca se detalham. Sempre que se pergunta “com quem?”, “para quem?” ou “em nome de quê?”, a resposta dissolve-se numa névoa conveniente. A memória falha, o tema muda, o assunto encerra.

E aqui reside o problema político central: quando a experiência visível não qualifica e a invisível não se explica, o eleitor fica apenas com desconfiança. Num país cansado de zonas cinzentas, de casos mal resolvidos e de silêncios estratégicos, colocar em Belém alguém com um lado oculto nunca clarificado não é prudência – é imprudência institucional.

Um Presidente não pode carregar compromissos implícitos, agendas não declaradas ou relações cuja natureza o país desconhece. Belém exige transparência absoluta, não redes opacas de influência. O risco não está no que se sabe, mas no que não se sabe – e num cargo desta natureza, o desconhecido pesa mais do que qualquer currículo visível.

Portugal não precisa de mais experiências ambíguas. Precisa de exemplos claros. Tal como os pais avisam os filhos – “há coisas que não se experimentam” – também os cidadãos devem saber que há experiências políticas que não se testam: evitam-se.

E talvez seja esse o verdadeiro serviço público a fazer quando cada vez que passarmos por um cartaz onde se lê “O Valor da Experiência”, talvez devamos acrescentar mentalmente a nota pedagógica: há valores que não servem Portugal – e há experiências que, decididamente, não se experimentam, evitam-se.