Origem do dinheiro ficou por apurar

O TRIBUNAL de Sintra, onde decorre há cerca de um mês, o julgamento do presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, já ouviu dezenas de testemunhas de acusação. Esta semana, uma perita financeira que colaborou nas investigações do Ministério Público, revelou que a origem do dinheiro em numerário do autarca ficou por demonstrar.

Lígia Vieira da Silva, do Núcleo Assessoria Técnica (NAT) da Procuradoria-Geral da Republica (PGR), testemunhou na quarta-feira e, apesar de referir que os montantes detectados no decorrer da investigação «não eram compatíveis com as declarações de rendimentos» de Isaltino , admitiu que as investigações à origem desse dinheiro foram inconclusivas. «São valores para os quais não conseguimos encontrar explicações, face às declarações no Tribunal Constitucional e nas Finanças e à análise económico-financeira que fizemos», afirmou.

«Todos sabemos que é difícil saber de onde vem o dinheiro em numerário», admitiu ainda, quando questionada pelos advogados dos arguidos.

Em causa estão, sobretudo, os valores depositados em contas no estrangeiro, tendo a perita do NAT dado vários exemplos para confirmar as afirmações que prestou ao tribunal. Por exemplo, entre 1999 e 2002, Isaltino teve rendimentos declarados na ordem dos 350 mil euros, mas depositou nas suas contas bancárias na Suíça um total de um milhão e 157 mil euros. Dinheiro que, segundo o próprio disse no início do julgamento, resultou de sobras de campanhas eleitorais, doações, heranças e até de lucros provenientes de investimentos da ex-mulher e da ex-sogra no negócio da Dona Branca.

Sobre a moradia adquirida por Isaltino em Altura (Algarve), por dez mil contos (50 mil euros), a perita do NAT disse também não ter sido «possível verificar os movimentos financeiros relacionados com a (sua) compra»: «Não conseguimos identificar de onde poderiam vir esses 10 mil contos. Houve certamente uma fonte externa».

A moradia foi também referida por Francisco Barata – um antigo adjunto de Isaltino em Oeiras. Barata garantiu ao tribunal que foi o próprio autarca quem lhe contou que «a casa de Altura foi uma contrapartida por um projecto de licenciamento» de João Algarvio, um empresário que também é arguido neste julgamento.

O advogado de Isaltino Morais dirigiu-se a esta testemunha dizendo tratar-se de «uma acusação muito grave». À saída do tribunal, porém, em declarações aos jornalistas, o próprio autarca desvalorizou as palavras do seu antigo assessor: «Ele disse que eu lhe disse – e isso vale zero».