Lígia Vieira da Silva, do Núcleo Assessoria Técnica (NAT) da Procuradoria-Geral da Republica (PGR), testemunhou na quarta-feira e, apesar de referir que os montantes detectados no decorrer da investigação «não eram compatíveis com as declarações de rendimentos» de Isaltino , admitiu que as investigações à origem desse dinheiro foram inconclusivas. «São valores para os quais não conseguimos encontrar explicações, face às declarações no Tribunal Constitucional e nas Finanças e à análise económico-financeira que fizemos», afirmou.
«Todos sabemos que é difícil saber de onde vem o dinheiro em numerário», admitiu ainda, quando questionada pelos advogados dos arguidos.
Em causa estão, sobretudo, os valores depositados em contas no estrangeiro, tendo a perita do NAT dado vários exemplos para confirmar as afirmações que prestou ao tribunal. Por exemplo, entre 1999 e 2002, Isaltino teve rendimentos declarados na ordem dos 350 mil euros, mas depositou nas suas contas bancárias na Suíça um total de um milhão e 157 mil euros. Dinheiro que, segundo o próprio disse no início do julgamento, resultou de sobras de campanhas eleitorais, doações, heranças e até de lucros provenientes de investimentos da ex-mulher e da ex-sogra no negócio da Dona Branca.
Sobre a moradia adquirida por Isaltino em Altura (Algarve), por dez mil contos (50 mil euros), a perita do NAT disse também não ter sido «possível verificar os movimentos financeiros relacionados com a (sua) compra»: «Não conseguimos identificar de onde poderiam vir esses 10 mil contos. Houve certamente uma fonte externa».
A moradia foi também referida por Francisco Barata – um antigo adjunto de Isaltino em Oeiras. Barata garantiu ao tribunal que foi o próprio autarca quem lhe contou que «a casa de Altura foi uma contrapartida por um projecto de licenciamento» de João Algarvio, um empresário que também é arguido neste julgamento.
O advogado de Isaltino Morais dirigiu-se a esta testemunha dizendo tratar-se de «uma acusação muito grave». À saída do tribunal, porém, em declarações aos jornalistas, o próprio autarca desvalorizou as palavras do seu antigo assessor: «Ele disse que eu lhe disse – e isso vale zero».