lagoa das sete cidades
(zonas aquáticas não marinhas)
açores
o tempo é caprichoso e, muitas vezes, a viagem até às sete cidades não tem o desfecho desejado. é preciso que o céu esteja bem limpo para que se consiga avistar, logo do cume, as duas lagoas. é uma viagem de ansiedade, por entre curvas e contra-curvas, no meio da densa florestação, em busca de miradouros que permitam descobrir o complexo vulcânico das sete cidades, na ilha de são miguel.
classificada como paisagem protegida, é uma zona de montanha, com falésias interiores e profundas ravinas, que abraçam uma das maiores caldeiras de abatimento dos açores. o duplo lago, composto pelas lagoas verde e azul – ligadas por um canal atravessado por uma ponte baixa que conduz à freguesia das sete cidades – ocupa cerca de 4,5 quilómetros quadrados, com 30 metros de profundidade, sendo o maior reservatório de água doce de superfície do arquipélago.
cenário místico, conta uma das inúmeras lendas que uma princesa, atília, e um pastor se apaixonaram naquelas matas, mas foram proibidos pelo rei das sete cidades de se casarem. desgostosos, choraram tanto que as suas lágrimas formaram duas lagoas: uma verde da cor dos olhos da princesa e outra azul, como os olhos do pastor. infelizmente, a degradação microbiológica tem vindo cada vez mais a atenuar as diferenças cromáticas das duas lagoas.
paisagem vulcânica da ilha do pico
(grandes relevos)
açores
«pico é mais do que uma ilha – é uma estátua erguida até ao céu e amolgada pelo fogo – é outro adamastor como o do cabo das tormentas», escreveu raul brandão, em as ilhas desconhecidas.
cenário inóspito de beleza avassaladora, o pico resta solitário, senhor de si. é o ponto mais alto de portugal, com cerca de 5.000 metros de altura, dos quais 2.351 se encontram acima do nível médio das águas do mar.
foi a montanha vulcânica – que entrou pela última vez em actividade no início do século xviii –, com o seu formato cónico, que deu o nome à ilha de apenas 15 mil habitantes. o topo da montanha é composto por uma cratera com 700 metros de perímetro e 30 de profundidade, e um cone lávico de 70 metros, o piquinho. é possível conduzir até aos 1.200 metros, mas o restante tem de ser escalado. à medida que se vai subindo, o cenário altera-se, com a vegetação mais rasteira. atingir o cume é uma sensação indescritível e, em dias limpos, dali se podem avistar as outras ilhas do grupo central.
na parte baixa das encostas da montanha ficam os vinhedos que constituem a paisagem protegida de interesse regional da cultura da vinha da ilha do pico, classificado pela unesco como património mundial.
floresta laurissilva
(florestas e matas)
madeira
é a maior concentração deste tipo de floresta em todo o mundo. segundo a direcção regional de florestas, a laurissilva ocupa 20% da superfície total da ilha. no total são cerca de 15 mil hectares, essencialmente na costa norte, e mais de 11 milhões de árvores.
são árvores centenárias, quase relíquias naturais, que coabitam e dependem de um sem-número de outras espécies, fazendo da floresta laurissilva um laboratório vivo e um dos habitats com maior índice de diversidade de plantas por quilómetro quadrado. de um verde inebriante, nas suas variadas tonalidades, este é um ecossistema que resistiu a cinco séculos de humanização.
a palavra laurissilva deriva do latim laurus (loureiro) e silva (floresta), e designa um tipo de floresta húmida, subtropical a temperada, composta maioritariamente por árvores da família das lauráceas.
há 20 milhões de anos, a laurissilva ocupava toda a área da agora bacia do mediterrâneo. mas o homem e as alterações climatéricas ditaram o fim deste tipo de floresta, que sobreviveu apenas nos arquipélagos que integram a macaronésia – açores, madeira, canárias, cabo verde e mauritânia –, sendo a madeira o seu mais imponente exemplo, desde 1999, considerada património natural da humanidade pela unesco.
parque nacional da peneda-gerês
(zonas protegidas)
norte
é o único parque nacional de portugal – classificado desde 1971. no extremo-nordeste do minho, abrange os distritos de braga, viana do castelo e vila real, e estende-se desde a serra do gerês à serra da peneda, num total de cerca de 72 mil hectares – que neste verão foram particularmente castigados pelos incêndios.
com a forma de uma lua minguante, o parque da peneda gerês é um local mágico e cheio de vida. mais verde e frondoso no centro, mais seco nos extremos. a vegetação cria paisagens variadas, interrompidas por lagoas de albufeira, como a da caniçada, que criam autênticos espelhos de água por entre o verde.
pelos seus caminhos encontram-se marcas do homem, como monumentos megalíticos, trechos de estrada romana, aldeias e castelos perdidos, e dois centros de peregrinação: o santuário de nossa senhora da peneda e o de são bento da porta aberta. na ponte da mizarela, que, segundo a lenda, foi construída pelo demónio, travou-se uma importante batalha na qual os populares portugueses derrotaram o exército francês.
mas os segredos do parque estendem–se à vida que ali habita: mais de 226 espécies protegidas, das quais 65 estão ameaçadas de extinção.
grutas de mira de aire
(grutas e cavernas)
centro
foi em 1947 que, pela primeira vez, um grupo de homens desceu às grutas de mira de aire, a 15 quilómetros de fátima. a pulso, utilizando cordas grossas, aventuraram-se no desconhecido e, dia após dia, foram descobrindo salas e galerias, até então secretamente guardadas pela natureza. durante anos as grutas, também conhecidas como os moinhos velhos, foram objecto de inúmeras investigações e assim se foram descobrindo os 11 quilómetros de caminhos pelo calcário do parque natural da serra de aire e candeeiros.
em 1974, abriram pela primeira vez ao público, e hoje, os 700 metros visitáveis, são as grutas mais percorridas do país. os mais de seis milhões de pessoas que por ali já passaram puderam serpentear e percorrer a rota das estalactites, da imponente sala grande à colorida sala vermelha, da sala da joalharia à cúpula majestosa.
uma após outra, descobrem-se salas e galerias, e pode admirar-se uma sucessão de estranhas e únicas formações calcárias que, com o tempo, ganharam nomes inusitados como a alforreca, o marciano, a boca do inferno ou o órgão. acompanha-se o curso dos regatos, o rio negro e a sua cascata, até ao grande lago.
portinho da arrábida
(praias e falésias)
lisboa e vale do tejo
é um recanto em forma de concha, quase escondido no sopé da serra da arrábida. a 14 quilómetros de setúbal, entre as praias de alpertuche e de galapos, o portinho da arrábida insere-se na paisagem protegida do parque natural da serra da arrábida.
é uma enseada abrigada, que durante anos foi um segredo bem guardado. é a praia do imaginário de infância de muitos que por lá tiveram as primeiras brincadeiras naquelas areias finas, e por lá ficaram a acreditar que a praia era sempre aquela fusão harmoniosa do azul cristalino das águas geladas e do verde da serra.
no mar, aqui e ali, encontram-se sempre embarcações ancoradas e na serra há pequenas ‘pintas’ brancas de habitações que ali foram construídas, ainda antes de tal se tornar proibido. no cume, perdido entre a serra, surge ainda o convento da arrábida, fundado em 1542 por frades franciscanos e que ali permanece, incólume.
é palco preferencial para amantes da caça submarina, sobretudo na zona da pedra da anicha, devido à riqueza que aquelas profundezas ocultam. o museu oceanográfico, localizado no forte de santa maria da arrábida – em tempos porto de abrigo para piratas –, possui uma colecção de fauna e flora da arrábida, e é merecedor de uma visita.
ria formosa
(zonas marinhas)
algarve
a fragilidade da natureza sente-se de forma premente na ria formosa que, ano após ano, transforma os seus contornos à mercê das marés e dos caprichos do homem.
a ria é um território ecológico, desde 1987 protegido pelo estatuto de parque natural, que se estende por 60 quilómetros, da praia do ancão à manta rota, ao longo da costa do sotavento algarvio, ocupando uma superfície de cerca de 20000 hectares.
é um sistema lagunar complexo, enquadrado por duas penínsulas (faro e cacela) e cinco ilhas-barreira (barreta, farol, armona, tavira e cabanas), que servem de protecção a um labirinto de sapais, canais e ilhotes e que são fundamentais para a defesa natural das zonas ribeirinhas da ria formosa.
este é um ecossistema generoso. para os que o querem apreciar e conhecer-lhe os segredos de todas as espécies que lá habitam – como o caimão-comum, uma espécie rara que em portugal existe exclusivamente nesta região –, mas também para os que lá vivem e da ria retiram o seu proveito, através da apanha de peixes, moluscos e crustáceos, e da exploração do sal.
a zona está ameaçada pela constante subida das águas do mar, o assoreamento da ria, a construção desordenada e os picos sazonais do turismo. é, das recém-eleitas sete maravilhas naturais de portugal, a que mais urgentemente precisa de cuidados.