‘Parecemos contentes com os problemas da Selecção’

«Passámos de juntar esforços com os jogadores da Selecção para estarmos todos contentes com os seus problemas» – desabafa Pauleta em entrevista ao SOL. E diz que não sonha ser treinador nem comentador, porque aquilo que gosta mesmo é de jogar e marcar golos

como vê a escolha de paulo bento para seleccionador nacional?

é uma boa solução, fico contente pelo paulo, é uma pessoa que admiro, de quem gosto e sou amigo. é alguém com conhecimentos para defender bem a selecção e portanto fico feliz por ter sido ele o escolhido.

pode pacificar a selecção?

sim, acredito. é uma pessoa com experiência na selecção, passou lá muitos anos, conhece as pessoas. acredito que seja capaz de ajudar a selecção a atingir os seus objectivos.

há poucos dias disse que poderia estar disponível para a equipa técnica da selecção, dependendo da pessoa escolhida. estão reunidas as condições para aceitar um convite?

por amor de deus, não quero falar sobre esse assunto num momento destes! o paulo foi o escolhido e terá na sua equipa as pessoas que trabalham com ele.

nunca ponderou investir numa carreira de treinador?

neste momento, não. não digo que não venha a ser no futuro, mas do que gosto é de jogar futebol. não é de comentar futebol nem de dirigir. acho que não tenho nem vocação nem vontade de me expor nesse sentido. a vontade que tinha, e que ainda tenho, é de jogar. e por isso venho muitas vezes para o campo da minha escola jogar futebol com amigos. é disso que gosto: jogar e marcar golos. a minha família e o futebol são as duas coisas mais importantes da minha vida.

mourinho em part-time faria sentido?

penso que essa podia ser uma opção. se um treinador pode preparar bem o apuramento, que é o objectivo neste momento, estava de acordo com essa decisão. mas já achava provável que não acontecesse. penso que a opção paulo bento é a mais acertada.

e quanto a gilberto madaíl, tem condições para continuar a liderar a federação portuguesa de futebol?

só ele saberá se tem condições para o fazer. fez um trabalho notável à frente da federação durante os últimos anos, agora é óbvio que têm acontecido problemas atrás de problemas.

quando vê uma equipa onde já esteve e onde passou bons momentos, passar por momentos mais difíceis, o que sente?

custa. custa-me ver que as pessoas estão mais preocupadas com o seu nome do que com o que é a selecção nacional e portugal. para mim os nomes não interessam para nada, o que interessa é portugal. dá-me raiva estarmos mais preocupados em aparecer nos programas televisivos e em arranjarmos os problemas a, b ou c para ligarmos à federação, do que em que o país ganhe. o importante é que o país ganhe.

nos últimos meses falou-se de tudo menos de futebol?

exactamente. parece que estamos todos contentes com o que se está a passar com a selecção. e foi o que me entristeceu mais. em pouco tempo passámos de estar todos a juntar esforços com os jogadores da selecção para estarmos todos contentes com os problemas na selecção.

carlos queiroz foi o grande responsável?

não procuro culpados. a culpa para mim é de todos. todos os que estão envolvidos têm de assumir as suas responsabilidades e temos de chamar as coisas pelos nomes. em vez de unidos, estamos desunidos e já vimos que quando portugal não está unido… já tínhamos a experiência de anos anteriores em que tínhamos selecções com jogadores muito melhores e também não conseguimos fazer nada. se os jogadores, a selecção e o novo treinador não se unirem, não vamos ter sucesso.

ainda antes do despedimento de carlos queiroz disse que considerava que a situação tinha de ser resolvida com urgência. a sua saída era inevitável?

depois de tudo o que se passou, era inevitável. e pecou por tardia. não devíamos ter esperado para perdermos tantos pontos no apuramento para o europeu. a partir do momento em que o secretário de estado presta as declarações que prestou, é óbvio que as coisas são mais complicadas. mas, como disse, não quero saber de nomes para nada. quero é que a selecção se una para atingir o objectivo mais importante: o europeu de 2012.

acredita que ainda é possível?

acredito que portugal tem qualidade para ganhar os jogos que faltam. se conseguirmos eliminar rapidamente todos os problemas, se o treinador tiver capacidade para unir o grupo de trabalho e tiver o apoio de toda a federação, vamos alcançar o objectivo.

raquel.carrilho@sol.pt