eram os gloriosos programas que se enfiavam em cadeia para engordar as horas de emissão e manter o público agarrado à televisão, se possível, da manhã à noite.
mas se os enlatados foram um sucesso, parece entretanto ter aparecido uma outra forma, próxima foneticamente, que busca antes a originalidade sem saber exactamente com que armas se bater: chamemos-lhes ‘entalados’.
e entalados simplesmente pela falta de clarividência em termos de formato, a queda para o híbrido que não se identifica como carne nem peixe, a indefinição que em vez de ser inventiva, pelo contrário, torna-se a maior armadilha da própria proposta.
concretizemos com um exemplo actual: o talk show que a rtp1 destinou ao regresso de herman josé, o herman 2010, segue a regra de ouro do formato norte-americano em que ao apresentador/humorista se pede que polvilhe a emissão de sketches, gags e piadas mais ou menos preparadas. e aqui, não estamos perante o modelo de jay leno nem o clássico programa de humor.
mas o novo programa do que continua a ser o mais brilhante humorista a ter alguma vez passado pela televisão portuguesa, parece ter-se esquecido da outra regra fundamental dos talk shows: é que deverá haver show, muito bem, mas que deverá ser acompanhado por alguma talk.
e aqui é que a porca torce o rabo. porque sentar no sofá antónio costa, joe berardo ou quem quer que seja para lhes extrair duas frases com princípio, meio e fim, e depois reduzir a sua participação no programa ao comentário de um par das piadas da noite é muito pouco. e por muito que divirta, nem bem esticadinho chega aos calcanhares do que herman podia estar a fazer.