nem a fase inicial de ídolos – mais virada para a risota à custa da falta de bom senso alheia do que propriamente focada em real talento musical – nem o filme escalado em cima do joelho pela rtp1 beliscaram sequer o regresso do programa que há dez anos catapultou a tvi para líder de audiências.
o esquema é o habitual: gala com expulsões semanais apresentada por júlia pinheiro, especiais diários e, claro, um canal dedicado em exclusivo às 30 câmaras que filmam permanentemente a casa.
é quase irresistível obrigar o comando a parar pelo ‘tal canal’, com a certeza de que entre as 11 da manhã e as cinco da madrugada há algum tipo de animação. sendo que a animação resume-se a um grupo de pessoas a: delinear estratégias de jogo, comportar-se como experimentados terapeutas capazes de traçar um rigoroso perfil psicológico com base numa observação de três dias, cochichar um sem-fim de rumores sobre os outros com gravidade de estado, debitar com um notável altivez filosofia de pacotilha e reclamar as duas maiores qualidades verbalizadas por todos os concorrentes desde a segunda edição – ser frontal e genuíno. o que se traduz, invariavelmente, na frase: «tens de ser quem és».
há uns dias estreava-se igualmente ah, a literatura, no canal q, e os apresentadores despediam-se dizendo que melhor do que ver um programa sobre livros seria estar a lê-los. no caso destes big brothers, talvez melhor do que assistir à inutilidade das vidas dos outros seria viver as próprias. a menos que elas sejam, precisamente, ver e comentar as vidas dos outros.