o vendaval estava instalado na rua, mas no mercado da ribeira respirava-se primavera, com a 35ª edição da modalisboa – isto apesar de alguns pingos de chuva que se fizeram sentir na sala de desfiles. ainda que a câmara de lisboa já tenha clarificado que, a partir da próxima edição, aquele que é o maior evento de moda do país se instalará definitivamente no páteo da galé, no terreiro do paço – onde já se realizou a 34ª edição, para esta modalisboa a casa escolhida foi mesmo o mercado da ribeira, símbolo de uma lisboa do povo.
não deixou de ser uma união original, mas também nada pacífico. os vendedores do mercado questionaram o porquê de tantas obras e o que teriam a ganhar com esta azáfama. a resposta ficou ontem à vista: a prova de que o mercado pode ser o palco para casamentos felizes entre o antigo e o moderno, entre o tradicional e o inovador. no mercado da ribeira, com aromas fortes no ar e vista para bancas repletas de cores de frutos e legumes, talvez nunca a modalisboa tenha sido tão alfacinha.
pela passerelle desfilaram hoje as propostas de filipe faísca, ricardo preto e manuel alves/josé manuel gonçalves, mas foi um arranque morno em termos criativos.
faísca quis remeter para a liberdade e as diferentes mulheres, mas acabou por ir pouco além dos vestidos estivais e femininos, mas numa zona de conforto de um designer que já sabe bem qual o seu público. ainda que sempre com a altíssima qualidade na produção – algo que é sua imagem de marca –, filipe faísca ficou, no entanto, um pouco aquém do deslumbramento causado por colecções anteriores.
já ricardo preto intitulou a sua colecção de bird girl e as suas ‘raparigas-pássaro’ desfilaram propostas inspiradas em paul poiret, o costureiro parisiense do início do século xx. o designer procurou brincar com silhuetas e comprimentos, com apontamentos inesperados, que deram algum humor à colecção.
a fechar o dia, a dupla manuel alves/josé manuel gonçalves apresentaram a colecção mais conseguida da noite, indo um pouco além daquilo que foram as propostas das edições anteriores. conscientes do actual momento de crise, a dupla repensou as silhuetas para linhas mais limpas, simples, sem grandes excessos, onde as cores neutras são cortadas com amarelos, rosas, azulões e verdes. uma interpretação destes tempos austeros que não perdeu, no entanto, o luxo que caracteriza o trabalho de manuel alves e josé manuel gonçalves. destaque para os sapatos com um interessante trabalho com cordas de algodão e ráfias.
hoje, sexta-feira, a modalisboa – in the market prossegue com luís buchinho, alexandra moura, ana salazar e a marca cia. marítima.
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