De um lado está um Governo que falha sucessivamente nas previsões e nas promessas feitas, desculpando-se com a situação internacional. Do outro temos um líder de oposição que garante ser ‘dono’ da solução para as contas do país, mas que mantém o jogo fechado, mostrando aos portugueses que o que importa é queimar o Governo em lume brando, para que ele próprio possa surgir, um dia destes, como o salvador da pátria.
O argumento do PSD – é o Governo que tem de apresentar um Orçamento – é válido. O desafio do Governo a Passos Coelho – instando-o a apresentar as soluções – também é válido. Quem tem razão? Os dois e nenhum. Na verdade, no ponto em que estamos importa pouco quem tem razão. Importava, isso sim, que Portugal desse um melhor exemplo aos mercados e que os nossos políticos entendessem que acima dos interesses partidários estão os do país.
O mais provável, contudo, é que o Orçamento seja aprovado, porque outra solução é impensável. O que dirão, nessa altura, Sócrates e Passos aos portugueses? O primeiro dirá que foi o Governo quem ‘travou’ os ímpetos neo-liberais do PSD.
O segundo dirá que foi o PSD quem ‘salvou’ o futuro do país. Tal como no PEC II, ambos vão tirar os dividendos a que entendem ter direito. Visto de uma forma fria, tudo isto é profundamente triste e faz lembrar a história do país que Saramago inventou onde, um dia, todos votaram em branco. A solução não é virar as costas aos políticos, porque isso seria desistir de acreditar que um dia poderão surgir líderes de melhor qualidade. Mas às vezes apetece. Haja paciência.