A dona do palácio da Brejoeira

Hermínia Paes é proprietária e habita o Palácio da Brejoeira, em Monção. Agora abriu as portas de sua casa ao público para dar a conhecer um espólio impressionante.

600 contos de réis foi quanto custou, em 1937, a francisco de oliveira paes, um industrial de lisboa, o palácio construído na antiga quinta do vale da rosa para oferecer à filha. hermínia paes lembra-se como se fosse hoje: «estávamos na capela, de visita, e o pedreira, o empregado, aproximou-se de mim com uma almofada de veludo encarnado com um anho em cima e a chave do palácio. disse-me: ‘aqui tens, minha filha, a chave da tua casa’», conta.

actualmente a dona da casa reside numa ala reservada do imponente edifício de estilo neoclássico e aceitou abrir a sua residência, por solicitação do administrador emílio magalhães, para partilhar com os visitantes memórias antigas.

o brasão, à entrada, pertence a luís pereira velho de moscoso, rico morgado, fidalgo da casa real e cavaleiro da ordem de cristo, que mandou construir este edifício nobre em 1806. um século depois o conselheiro pedro maria da fonseca araújo, industrial , na época presidente da associação de comércio do porto, adquiriu o palácio. enriqueceu-o com uma capela palatina e um teatro, naquela que foi a última obra de remodelação, que incluiu ainda o revestimento das paredes do átrio e da escadaria de azulejos e, no exterior, a reforma dos jardins e do bosque e a construção de um lago.

a típica quinta agrícola minhota do século xvii, actual quinta da brejoeira, passou assim a albergar um ilustre palácio, palco de encontros e festas da fidalguia. uma propriedade dividida entre 18 hectares de vinha, oito hectares de bosque e três hectares de jardim. em forma de l, a sumptuosa habitação compõe-se de três torreões, uma cedência do rei. «não sendo descendente de sangue azul, luís de moscoso não podia construir um palácio com quatro torres e por isso pediu autorização ao rei para construir a terceira torre», explica o director de património hugo souto, de passagem pela sala do rei onde d. joão vi é homenageado com um retrato de corpo inteiro.

os estuques, os frescos e mobiliário companhia das índias, as compilações de diários da república e do governo (do porto e de lisboa) da imensa biblioteca, os quadros na sala dos retratos, a sala de armas, o teatro (com os cenários originais), a magnífica capela e o jardim de inverno ilustram a vivência desta casa senhorial. a ostentação começa no átrio, com os candeeiros que encimam cada um dos lados da escadaria. «a electricidade, bem como o telégrafo, chegaram a este palácio seis anos antes do que a toda esta região», revela hugo.

no exterior, harmonizam-se jardins de estilo inglês, um frondoso bosque de variadas e exóticas espécies e campos de vinha . as avenidas dos plátanos e das tílias, perpendiculares à fachada lateral (entrada principal do palácio à época) desembocam na plantação de vinha que mantém intacta a parcela original de três hectares.

o cultivo da vinha de casta alvarinho, em 1964, é obra de hermínia paes, que fez deste um dos mais famosos vinhos da sub-região de monção. curiosamente, na antiga adega – da origem da construção do palácio – nunca foi produzido alvarinho, apenas vinho tinto. nos velhos barris de madeira repousa agora aguardente velha, enquanto o vinho é produzido nas modernas instalações contíguas.

à necessidade de financiamento para o seu restauro juntou-se a curiosidade de quem passava diante do palácio. «as pessoas sempre ansiaram transpor o gradeamento dos portões». dois séculos depois, abre-se a visitas.

palácio da brejoeira
quinta da brejoeira pinheiros – monção
tel. 251 666 129

www.palaciodabrejoeira.pt