Se uma permite perceber a cada vez maior elasticidade na relação com um pequeno ecrã também ele cada vez mais pequeno (que podem os plasmas gigantes contra os telemóveis topo de gama?), a outra permite perceber igualmente uma maior elasticidade no que é legítimo mostrar num canal televisivo…
Há seis anos, o actor Tom Hanks teve a ideia de produzir uma série para televisão. Primeiro, pensou-a como uma espécie de film noir com marionetas, depois adaptou Electric City para uma animação composta por 20 episódios de três minutos sobre temas de consciência social, ambiental e direitos fundamentais. Tentou vendê-la a várias estações norte-americanas, e nada conseguiu.
Foi então que decidiu formar uma parceria com uma empresa indiana, responsável por fazer chegar os episódios aos telemóveis dos muitos milhões de utilizadores na Índia. Se o ecrã mirrou, as possibilidades não param de crescer.
Por outro lado, aquilo a que se está a chamar sensacionalismo na televisão italiana – mas que desafia os limites dessa mesma palavra e dilacera qualquer ética sobre o que deve e pode ser exibido –, faz-nos pensar onde é que poderão estar os travões para esta escalada. Concetta Serrano, mãe de uma rapariga de 15 anos desaparecida, foi informada em directo na RAI, com as câmaras fixas no seu rosto, de que a filha tinha sido assassinada e que o seu cunhado acabara de confessar o crime.
É preocupante, quando a sátira aos reality shows de Oliver Stone Assassinos Natos começa a aproximar-se rapidamente da realidade televisiva que estamos a construir.