as esferas enferrujadas sobre a gravilha do solo cinzento, inerte, decoram o ‘blank garden’ – a materialização de um jardim em estado de ‘kaos’ aos olhos das estudantes ângela ribeiro da silva e maria teresa costa. é com este jardim, «sem a sombra das árvores, a cor das plantas e o cheiro das flores…» que portugal abre a 6 .ª edição do festival internacional de jardins, em ponte de lima.
o ‘kaos no jardim’ está ainda representado em mais 10 canteiros, numa interpretação pessoal de arquitectos paisagistas, de todo o mundo, sobre o tema da edição deste ano do certame. «escolhemos sempre temas da actualidade que sensibilizem os participantes. o caos provocado pela crise ou o caos ambiental inserem-se no contexto em que vivemos», refere a responsável técnica eva barbosa.
numa área total de 2.500m2, entre avenidas floridas, recantos sob ramadas verdes, fontes e miradouros metálicos (numa versão pós- moderna dos pagodes chineses) rodeados de labirintos de sebes, distribuem-se os jardins ‘semeados’ de plástico, pedra, ferro, madeira e espelhos…
a ‘fenda escura’, representada por um corredor formado por lascas de xisto, ladeada por um jardim natural e outro artificial é um convite francês ao pensamento sobre o equilíbrio entre o que a natureza e o homem criaram e que pode ser irreversivelmente quebrado. já a irlanda apresenta o ‘jardim do aviso global’, sob a forma de um planeta terra sangrento em equilíbrio precário.
menos óbvia, a áustria rompe com o habitual significado de caos em ‘e no princípio houve…’, suportando-se na explicação mitológica da palavra, que nos remete para o estado primitivo do mundo, numa obra minimalista de finas estacas de madeira.
o ‘terramoto’, «uma das formas mais drásticas de transformar a paisagem e criar o caos», sugerido por espanha, e o ‘jardim das incertezas’, do brasil, onde ‘tudo é kaos’ porque ‘a ordem é uma ilusão’ são outras das expressões artísticas. «estes são jardins artísticos, com novos conceitos e mensagens implícitas que apelam ao nosso quotidiano», explica a responsável.
a geometria fractal e a teoria do caos, assente no efeito borboleta teorizado por edward lorenz, em 1963, serviram ainda de inspiração aos restantes participantes. segundo eva barbosa, foram precisamente dois destes jardins os mais trabalhosos: «a construção das enormes borboletas metálicas do jardim holandês gerou grande expectativa porque não sabíamos qual o resultado final. a construção do túnel do jardim de portugal e a colocação do muro de espelhos envolvente foi igualmente complexo», diz.
os 11 jardins destacaram-se entre os 77 projectos apresentados por 15 países, número que aumenta de ano para ano. a china integra o festival com ‘caleidoscópio’ – o único jardim convencional , em socalcos coloridos de flores naturais. «é o mais votado pelo público», avança a organização.
estes jardins efémeros mantêm-se até ao fim do mês de outubro, altura em que terminam as inscrições para o próximo ano. «qualquer pessoa pode participar, basta seguir o tema», sublinha eva. no ano internacional da floresta o mote é ‘a floresta no jardim’.
festival internacional de jardins
ponte de lima (junto ao rio lima)
tel. 258 900 400
www.festivaldejardins.cm-pontedelima.pt