inaceitável
declaração de responsáveis estrangeiros são ultrajantes para o orgulho nacionalsob o ponto de vista da dignidade nacional, considero muito desagradáveis os apelos para a aprovação do orçamento do estado.
desde o embaixador dos eua a jean-claude junker, primeiro-ministro do luxemburgo, passando por vários comissários europeus e pelo secretário-geral da ocde, todos têm vindo dar a sua sentença. apetecia-me responder aos autores desses apelos aquilo que o rei juan carlos respondeu a hugo chávez: «por qué no te callas!?».
o modo como temos admitido a constante intromissão nos assuntos internos de portugal roça o ultraje. alguém viu ou ouviu semelhantes manifestações a propósito de outros estados-membros da união europeia?
todos podemos fazer apreciações sobre a evolução de outros países, principalmente quando são positivas. mas onde é que já se viu altos responsáveis de um estado ou de uma organização internacional pronunciarem-se sobre votações no parlamento soberano de outro estado?
sem dúvida que, com a globalização do planeta em que vivemos, quase tudo respeita hoje em dia a quase todos. mas o valor da dignidade também tem de ser global. e, como nos ensinaram aqueles que nos formaram, um país que não se dá ao respeito não é respeitado.
nestes momentos é que importa também definir se a união europeia é um projecto de solidariedade e de partilha ou se é um projecto de contabilidade e de cartilha. a cartilha já sabemos que existiu – com o tratado de maastricht a dar os resultados que agora estão à vista de todos.
opresidente da comissão europeia é português e tem obrigação – até pelo apoio que sempre recebeu dos pequenos e médios países da união – de deixar claro que os estados-membros precisam uns dos outros.
a lógica e as exigências da competitividade a nível mundial não permitem aos maiores países da europa dispensar os seus parceiros e o mercado desalfandegado com que hoje contam. a ameaça, mais ou menos subtil, de que a alemanha pode deixar de pagar boa parte do orçamento da união europeia não deve intimidar ninguém.
oparlamento português tem de votar o orçamento do estado para 2010. e a votação deve decorrer com inteira serenidade e plena responsabilidade. não é lirismo o que aqui se diz, porque estamos todos cientes do nível de dependência externa da economia portuguesa. mas quem tem de escolher o nosso caminho somos nós próprios. quem tem de definir os sacrifícios que estamos dispostos a passar somos nós próprios.
ainda por cima, quem dá conselhos ou faz apelos não tem qualquer autoridade para os fazer. durante todos estes anos, desde maastricht – ou seja, deste 1992 – eles deixaram a economia mundial chegar onde chegou e calaram-se perante os indicadores vertiginosos do endividamento da economia portuguesa.
respeitável
alguém disse à alemanha ou à frança o que deviam fazer?
por contraste, é bom destacar o comportamento do presidente do banco central europeu. ele saberá, melhor do que muitos, as reais necessidades dos diferentes estados-membros, principalmente dos que estão em situação mais difícil.
ele sabe, melhor do que quase todos, o ponto a que chegaram os sistemas financeiros de vários estados-membros.
ele saberá muito bem a importância de que se revestem determinadas decisões como a que vai ser tomada pela assembleia da república. mas não lhe ouvi até hoje declarações abusivas no plano do respeito devido à soberania dos estados-membros.
algumas pessoas podem pensar que isto não tem importância nenhuma, mas estão completamente enganadas. o brio, o amor-próprio, o orgulho pátrio constituem valores que dão confiança a uma nação e àqueles que a olham de fora. uma nação que não tenha a ’coluna vertebral direita’ em determinado momento da sua história terá muita dificuldade em reerguer-se e andar de cabeça levantada no rumo que tiver de seguir.
faço lembrar que o rei juan carlos proferiu aquele «por qué no te callas!?» quando o presidente da venezuela fazia acusações sobre antigos responsáveis políticos espanhóis. ele reagiu e zapatero acompanhou-o nessa reacção. em portugal, ninguém sente obrigação de dizer a essas pessoas que têm de estar mesmo caladas sobre os nossos assuntos?
nós já tivemos muitos séculos de luta para garantirmos a nossa sobrevivência e a nossa independência. já tivemos poderosas feitorias lá para os lados da actual sede da união europeia e tivemos de as mandar encerrar, há quase cinco séculos, por falta de recursos para as manter. e o país não acabou. todos os países têm momentos mais difíceis na sua história. ainda recentemente, há cerca de cinco anos, a união europeia reviu normas do tratado de maastricht e flexibilizou o pacto de estabilidade e crescimento porque a alemanha e a frança violaram o tecto dos três por cento. e, na altura, alguém andou a dar entrevistas dizendo como é que os parlamentos desses países deviam votar os respectivos orçamentos?
tudo tem limites. e, se nenhum responsável político tem falado nesta matéria, eu, como português, quero exprimir aqui, bem alto, a minha insatisfação perante o desrespeitoso exagero a que temos assistido nas últimas semanas.
ficaria muito contente se as autoridades portuguesas tivessem manifestado nas respectivas capitais o desagrado provocado pelas palavras de alguns altos dignitários.
assinalávela importância do mar para portugal
foram levadas a cabo esta semana duas importantes iniciativas sobre o desígnio que é o mar para portugal. uma dessas iniciativas é da responsabilidade da caixa geral de depósitos e do expresso, e outra da fundação d. manuel ii, com a cplp e a câmara de cascais – esta reunindo especialistas de todos os países lusófonos. a primeira conta com a presença do presidente da república, e a segunda, naturalmente, do duque de bragança.
é isto mesmo que portugal tem de fazer. como o sol tem feito com as suas conferências e prova com a sua difusão. portugal tem de pensar-se a si próprio e nas riquezas de que dispõe – nas quais ocupa um lugar cimeiro o relevantíssimo valor das nossas imensas águas territoriais.
segundo as próprias convenções internacionais, nomeadamente a convenção de montego bay, portugal, por força da sua localização e da configuração do seu território, dispõe de uma enorme zona económica exclusiva e está empenhado actualmente no alargamento da sua plataforma continental.
a humanidade tem já uma ideia – mas ainda só uma leve ideia – da importância dos recursos que virão do fundo do mar para a sustentabilidade e o progresso do mundo nas próximas décadas e séculos.
portugal tem esse privilégio da natureza, que poucos países têm, e deve aproveitá-lo com toda a energia.
o presidente da república e uma fundação ligada ao pretendente ao trono de portugal dão testemunho de que estão conscientes da importância desse desiderato nacional.
no plano da economia, no plano da investigação, no plano energético, e em vários outros em que assume lugar cimeiro a defesa nacional, o mar é a matriz da identidade nacional. temos mais certeza do futuro com o mar do que com a união europeia.
pedro santana lopes