Mais: há até quem defenda, como César da Neves (que não é caso único), que a organização já deveria ter aterrado na Portela há um ano. Esta ideia, mesmo que dita com ironia (acredita-se que seja essa a ‘onda’), é perigosa, por duas razões.
Em primeiro lugar porque, à força de ser tão repetida por opinion makers instruídos e informados, passa para o exterior a ideia (que tem, aliás, historicamente, direitos de autor) de que Portugal é ingovernável. Numa altura em que já poucos acreditam em nós, ‘chamar’ o FMI – apelo que dá tempo de antena garantido nos meios de comunicação – apenas reforça a percepção de que, sozinhos, nunca iremos lá.
E, se a conclusão é essa, então – dizemos nós – mais vale a integração em Espanha, ou a submissão absoluta a um governo europeu. Entre uma e outra hipótese, venha o Diabo e escolha. É evidente que temos de saber tomar conta de nós.
Em segundo lugar porque, quem apela à vinda do FMI, sabe bem o que isso implica. O FMI não é ‘amigo’ e não tem contemplações.
Se o Governo diz que corta cinco, o FMI dirá para cortar 10. Se o Executivo decide que aumenta o imposto em 10, o FMI mandará aumentar em 20. E, se quisermos dinheirinho baratinho, não haverá alternativa senão obedecer. O FMI, quando chega, é para tomar medidas cegas, indiferente à contestação, porque o seu objectivo não é ganhar eleições. Veja-se o que aconteceu na Grécia…
Não existe alternativa senão ter um OE e responsabilizar quem o fez (e nos conduziu até aqui) pelo que correr mal (ou bem). O FMI, definitivamente, não é bem-vindo a Portugal. Como diria a canção, «antes o poço da morte que tal sorte».