nos últimos anos, tem-se tornado cada vez mais recorrente qualquer um de nós cruzar-se com quem escolheu excluir os telejornais da sua dieta diária por estar cansado de ver desgraças e catástrofes a entrar-lhe pela sala dentro e invadir o sossego do lar. homicídios, guerras, miséria, desastres naturais, escândalos políticos, casos de corrupção, suspeitas disto e daquilo, intermináveis sessões de tribunal, um sem-fim de notícias capazes de conduzir qualquer um à depressão.
neste momento, com o cenário de crise instalado, os anúncios de pec e as negociações com vista à viabilização do orçamento do estado (independentemente das posições pessoais), a programação televisiva tornou-se ainda mais sufocante em noticiários e debates que apenas adensam uma pesada nuvem de futuro sem futuro. cada vez mais os telejornais são riscados em nome de algum conforto e sossego.
a televisão é cada vez mais um escape. não interessa que reproduza ou se debruce sobre a realidade, ligamo-la, isso sim, para que cumpra a sua ‘missão maior’ que é produzir uma fuga fantasista dos dias passados a fazer contas à vida.
por vezes, no entanto, realidade e fantasia cruzam-se perversamente, mantendo a dureza da primeira e buscando a inventividade da segunda.
esta semana, um amigo chamou-me a atenção para condenados, novo programa da sic, que põe jornalistas a fazer reportagens como se de um episódio de csi se tratasse – esticando para lá do desejável o sensacionalismo, misturando especulações e factos até ‘provar’ a sua tese. é um perigo que comecemos a engolir apenas a realidade nestas pílulas de ficção.
gonçalo frota