há aqui um equívoco: a palavra sanduíche, embora certamente um anglicismo (de resto, como sande e sandes), está perfeitamente agasalhada há muito nos dicionários portugueses.
e o anglicismo é aqui difícil de tornear, porque a origem é inglesa, e relativamente recente: trata-se de um alimento inventado no séc. xviii pelo conde inglês de sandwich (grafia que é também nacionalizada pelo recente e pouco criterioso dicionário da academia).
este conde, fanático das cartas, e mais concretamente do whist, quis arranjar maneira de poder comer sem se levantar da mesa de jogo e concebeu a ideia de pôr uma fatia de carne fria entre duas de pão. daí se partiu para sanduíches cada vez mais sofisticadas – mas sempre sanduíches. para mim, uma sande ou sandes é um pedaço de pão duro, com um courato rançoso por dentro. mas tenho de admitir que o grande dicionário da sociedade de língua portuguesa define ‘sande’ de outra maneira, como «forma abreviada de sanduíche».
sem pôr em causa a competência e sabedoria dos linguistas que fizeram este dicionário, e com quem não concorro, nunca me habituarei à palavra ‘sande’, como simples abreviatura de sanduíche. mas repare o leitor que, quanto a portuguesismo e anglicismo, não há diferenças entre as duas palavras. já quanto a bom tom e bom gosto, há uma diferença abissal: eu nunca comeria uma sande ou sandes, mas perco-me por sanduíches.
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