revoltante
que é feito da espanha católica?
foram chocantes algumas imagens da visita do papa a espanha.
não sei o que se passou com a laicização radical do país vizinho. espanha era antes um país de enorme fé católica e o que conhecemos da vida dos seus cidadãos sempre demonstrou a importância que dão a essa dimensão da vida humana. nas artes, no desporto, nas touradas, em cerimónias públicas, nas declarações de responsáveis e protagonistas, sempre vimos constantes ´testemunhos de fé.
até pode acontecer que alguns se tenham afastado dessa maneira de ver a vida. mas uma mudança tão grande? passar do oito ao oitenta? merece óbvia ponderação o sentimento de perda que o desaparecimento físico de joão paulo ii provocou no mundo. em católicos e não-católicos.
bento xvi é o primeiro a sabê-lo e a assumi-lo. mas em portugal também se sentiu muito essa perda – e, no entanto, bento xvi foi recebido com grandes manifestações de júbilo. o que aconteceu em espanha? o que se passa com espanha?
hoje em dia ninguém se indigna com nada. mas eu quero expressar a minha indignação pelo modo como o papa foi tratado por alguns manifestantes. o papa foi a santiago de compostela como peregrino e, na véspera da sua chegada, cerca de 150 pessoas foram protestar pelo investimento que o estado fez para que houvesse segurança e dignidade. em barcelona, onde foi consagrar a igreja da sagrada família, de gaudí, teve lugar outra manifestação, essa bem mais inacreditável, de exibicionismo de afectos quando da passagem do papa.
não me interessa a orientação sexual dos participantes em cada uma das duas manifestações. sei que foi, num caso, sem justificação e com falta de cordialidade perante tão ilustre visitante e, no outro, de uma grosseria e falta de educação sem nome.
todos começamos a estar fartos das provocações, das insolências e da ausência de nível de gente que não está bem com o mundo.
cada vez mais temos a sensação de que aqueles que gostam do mundo, da vida, dos padrões mais comuns da civilização ocidental, têm de pedir desculpa por serem assim. cada um pode pensar o que quiser, ser o que quiser, escolher o que quiser. não pode é, à conta desses direitos, perturbar, incomodar, violentar a consciência dos outros.
está na hora da revolta dos ‘resistentes’.
saturante
estamos fartos de aturar provocações
já aqui escrevi contra a proibição do uso da burca ou do véu islâmico. detesto, abomino mesmo, qualquer falta de respeito para com qualquer símbolo de qualquer religião. eu sei que existe a liberdade de expressão e considero-a um bem supremo. mas liberdade de expressão ou de criação é uma coisa – e outra, bem diferente, é brincar com a figura ou a imagem de um profeta de uma religião ou com o chefe espiritual de uma igreja.
diz o povo, na sua proverbial sabedoria, que não se brinca com assuntos sérios. e é isso mesmo que está em causa.
cada um sabe da sua vida e deus sabe da de todos. cada um sabe do grau de conformidade do seu percurso com as regras da igreja da fé que professa. no que me respeita, procuro estar ciente da realidade. mas nada, nem essa avaliação, nos impede de sermos mulheres e homens de fé. eu assumo a fé católica. e não gosto nada de assistir a esta espécie de resignação de muitas pessoas, algumas das quais nunca se deveriam calar.
em portugal temos dado alguns passos complexos sem que se faça a devida luta entre convicções. há um complexo de modernidade que faz pisar a fronteira da alarvidade.
ouvi de uma criança com menos de 10 anos, perante determinadas imagens na televisão, exclamar: «olhem aqueles aos beijos na frente do papa!…». desculpem a pergunta, mas onde é que isto chegou?
chamem-me o que quiserem: careta, reaccionário, fascista, o que preferirem. temos de gritar bem alto que estamos fartos de aturar gente – seja qual for a sua orientação sexual ou política – que não sabe respeitar ninguém. e quando escrevo «estamos» falo de muitas pessoas, da grande maioria, hetero ou homossexuais, de direita, de centro ou de esquerda, que gosta de ser como é e não quer agredir ninguém por causa disso.
relevante
deve haver consenso em lisboa
em lisboa, na câmara municipal, esta é a semana da votação do pdm revisto. procurámos trabalhar em convergência. é preciso, a todo o momento, saber discernir bem o que é estrutural e estratégico do que pode variar com as mudanças de cor política.
desde 2001 que se trabalhou neste processo. no mandato que dirigi, a partir de 2002, e no mandato de carmona rodrigues, muito trabalho se fez. com antónio costa e com manuel salgado voltou a avançar – e está, agora, a ser concluído. falta a importante decisão da assembleia municipal.
num documento desta natureza não se deve ficar ‘no meio da estrada’, pelo que a abstenção faz pouco sentido.
o trabalho final que nos foi presente é positivo – e manuel salgado fez um enorme esforço de integração e de consenso. atitude pela qual é também, obviamente, responsável o actual presidente da câmara.
o nosso país está cansado de espectáculos de divisão e de confrontação. todos ansiamos por sinais, por provas, por resultados de convergência, de concertação, de entendimento. não queremos uniões nacionais ou locais. mas é hora da revolta dos ‘exigentes’.
um plano director municipal é o texto que moldará, em importantes aspectos, a vida da capital de portugal na próxima década e meia, pelo menos. nas áreas de que trata, é ‘a constituição da cidade’. sendo assim, deve ser feito tudo o que estiver ao nosso alcance para melhorar e valorizar o seu conteúdo.
foi possível enriquecer o documento, principalmente, no respeito pela identidade patrimonial de lisboa, na preocupação com a sustentabilidade das políticas, com os estímulos aos equilíbrios ambientais, na salvaguarda da devida permeabilização dos solos, bem como na garantia da monitorização constante dos indicadores mais importantes para os objectivos assumidos.
p.s. quanto mais incómodo se mostra com os mercados, mais eles se agitam. o presidente da república disse muito bem, esta semana, que devemos tratar de resolver os problemas internamente e terminar com a retórica da culpabilização de outros. modestamente, na segunda-feira passada, no porto, procurei apelar no mesmo sentido. não podemos estranhar que, com tanta declaração nervosa na política interna, praticamente todos os dias, os mercados não se enervem. alguém está tranquilo quanto à evolução da vida política nacional? então que razão haveria para os mercados estarem confiantes?
que o país se acalme. depois, os outros acalmar-se-ão.