Crias e filhotes

A moda de tratar os filhos por filhotes, como crias de animais, que vejo estar a estender-se entre os pacientes que atendo como médico, ameaça transformar-nos num jardim zoológico. Não se deveria acabar com isto? António Silva

aqui, como noutros casos, também se trata um bocadinho de uma questão de classes. entre os meus amigos, não vejo essa moda instalar-se. mas reconheço que existe a tendência. estou convencida de que a sua origem está, sobretudo, nas telenovelas brasileiras – pois o brasileiro tem muito esse costume. costume que, provavelmente a partir da televisão, foi aqui adoptado por um certo tipo de pessoas dos subúrbios com educação superior (ou universitária). é, portanto, um vício de estrangeirismo (algumas gramáticas classificavam-no de ‘barbarismo’) que, consoante a nossa educação, tem casos mais ou menos agradáveis (já croissant me parece mais aceitável do que bolo folhado).

mas considero que é mais bonito, e mais simpático ao ouvido, tratar os filhos por isso mesmo: filhos. vá lá: crianças, miúdos, pequenos – talvez gaiatos, como dizem na minha terra (sou alentejana). e seria apropriado deixar os filhotes e as crias nas suas tocas.

acabar com estas modas, assim a golpe de coluna de etiqueta, não me parece fácil. às vezes, basta esperar que a moda passe. outras vezes, temos de nos conformar com novos usos, mesmo que nos repugnem. com a única consolação de que tudo se passa fora de nossas casas.