a série que assenta a narrativa na agência de publicidade sterling cooper, na nova-iorquina madison avenue, retrata o meio em questão, mas vai mais longe do que isso, arriscando o esboço de uma nova sociedade emergente, erguida sobre uma desmesurada (e desorientada) ambição de poder e sofisticação. e é nesta última palavra que parece estar cada viagem do cigarro à boca, como se o gesto por si só fosse factor distintivo entre a mais pura elegância (no mundo feminino) ou o mais admirado trabalho intelectual (no mundo masculino), e todo um submundo de vulgaridade.
há cigarros em comboios, equilibrados em luvas de lavar loiça, em divãs psiquiátricos, num excesso caricatural que vinca, precisamente, o seu estatuto desproporcionado. mas há também o álcool, como código revelador de uma nova geração que se deixa asfixiar pela exigência do sucesso, pela obrigatoriedade de ser melhor e de progredir numa coisa chamada carreira, e de ter em casa, com a qualidade de uma fotografia, a família perfeita. só que, tal como nos melodramas de douglas sirk, o mais admirável exemplo da perfeição ‘white picket fence’ esconde, regra geral, alguma podridão.
«a vossa geração não bebe pelas razões certas. nós bebemos porque é bom, porque é aquilo que os homens fazem. vocês estão todos a lamber feridas imaginárias», vaticina roger sterling a donald draper, diagnosticando as angústias existenciais do segundo – motor essencial para a melhor das séries dramáticas da actualidade, soberba matéria de reflexão para o mundo em que vivemos e a sociedade que criámos com o paradigma desta que aqui vemos semanalmente na fox next.