a produção portuguesa meu amor venceu o emmy internacional (como o nome indica, os famosos prémios televisivos nas categorias de ‘melhor estrangeiro’) para melhor telenovela, numa cerimónia realizada em nova iorque. em competição com outras duas nomeadas, da argentina e das filipinas, e depois de peneirados 120 formatos equivalentes, a produção da tvi levou a melhor e o autor antónio barreira (acompanhado de parte do elenco) recebeu em mãos a honrosa distinção. no meio disto tudo, praticamente só se falou do pronunciado decote com que a jovem actriz rita pereira se apresentou na gala. e, em seguida, especulou-se sobre a sua eventual gravidez.
a ironia é evidente. basta demorar um par de minutos na actual ficção de pós-jantar da sic e da tvi para descobrir uma qualquer cena de cama, alguém a passear-se em roupa interior e uma insistência constante na ‘sexualização’ de todas as personagens, sobretudo as femininas. a máxima ‘o sexo vende’ é escrita a ouro e seria seguro apostar que parte considerável dos castings para estas produções será realizada com base em outros atributos que não a qualidade da representação.
rita pereira, achando provavelmente que a melhor porta para entrar em hollywood é aquela que se lhe abre para o corpo e não para o talento, tomou a decisão de ofuscar tudo à volta com o seu decote. e conseguiu-o. durante estes dias, o vídeo com a sua entrevista na passadeira vermelha correu a internet e foi notícia num sem-fim de sites e blogues. quanto ao nome da novela da tvi, ter-se-á perdido pelo caminho. e a maior distinção alguma vez obtida pela televisão portuguesa esfumou-se rapidamente, vítima da sua própria armadilha.