A que sabe um prato três estrelas Michelin?

Na Fortaleza do Guincho há sugestões que nunca saem da ementa. São os pratos de assinatura de Antoine Westermann, três estrelas Michelin. Fomos provar.

«é uma ocasião rara, o chefe sentar-se à mesa», comenta antoine westermann. ainda assim, o consultor da fortaleza do guincho não dispensa a jaleca, sem vestígios de se ter aproximado de um tacho, embora antes, pela força do hábito, tivesse passado pela cozinha e revisto cada prato.

da mesma forma, quando se aproxima da mesa a terrina de foie gras de ganso da região de landes com geleia de nozes e moscatel de setúbal, não resiste a ‘pôr as mãos na massa’ e é ele quem a corta em doses individuais. «na época das trufas leva uma inteira no recheio», diz. umas pedras de flor de sal «para equilibrar o sabor» ultimam a entrada.

westermann, 64 anos, há 14 detentor de três estrelas do guia michelin – decidiu afastar-se do ‘olimpo’ e passou ao filho o restaurante beurehiesel, em estrasburgo, que lhe deu a distinção; actualmente, dirige o bistrôt mon vieil ami e o restaurante drouant, em paris – saboreia o prato e mais tarde há-de confidenciar: «é como se tivesse sido eu a cozinhar».

mas não foi. vicent farges, chef executivo da fortaleza do guincho, uma estrela michelin, discípulo de westerman, dirigiu as operações na cozinha.

quando chegam as coxas de rã salteadas e schniederspaetle com cerefólio, o chefe dá o exemplo: «só há uma maneira de as comer!» e agarra-as com os dedos. por estarem cozinhadas na perfeição soltam-se facilmente do delicado osso. deliciosas, é o que se pode dizer quando nada se lhes compara em sabor . «entre os seguidores da cozinha de westermann este é o prato mais pedido», afiança petra sauer, directora geral do hotel.

segue-se o robalo de linha cozido ao vapor de algas frescas, tártaro de ostras da ria formosa e caviar de aquitânia com creme iodado, que evidencia a fusão da escola francesa com os produtos nacionais. «quando vim pela primeira vez a portugal percebi a qualidade dos legumes e que o peixe é o melhor do mundo. caí de amores», confessa. por isso não tem dificuldade em escolher o seu prato preferido por terras lusas: «um peixe ao sal ou, simplesmente, grelhado, quando é bem feito é magnífico».

o momento mais esperado foi a chegada da famosa galinha de bresse de pata negra. depois de 1h15 de confecção – normalmente é encomendada na véspera – chega numa tradicional caçarola da alsácia, selada com massa, onde foi cozida inteira com batatas, alcachofra e alecrim.

o escanção inácio loureiro harmoniza cada prato com os vinhos. para a galinha propõe um quinta do cidrô, pinot noir, regional duriense, de 2005. «habitualmente sugeriria um branco, mas para não cansar [os anteriores eram brancos] este é uma boa opção, servido a baixa temperatura, para não se notar tanto o álcool».

os olhares acompanham os gestos de quem retira a tampa e passeia a caçarola em volta da mesa revelando os aromas e a iguaria. «a minha mãe preparava este prato ao domingo. cortavam-se os legumes e a carne repousava com os condimentos na caçarola. na segunda-feira, era levada à padaria para ser lacrada com a massa», lembra westermann. talvez por isso seja o seu prato de eleição, embora esta estivesse «um pouco seca», em sua opinião.

para o final, «uma sobremesa muito simples»: brioche assado com cerveja, pêra assada e gelado de cerveja. o chef propõe que se troque o moscatel sugerido por «uma cerveja». a combinação é perfeita, mas pode um sabor que não se esquece ser ‘simples’? quando o silêncio se instala numa mesa de grupo sabemos que as expectativas foram superadas.

satisfeito, o mestre chama à sala vicent farges e frederic breitenbucher, o número dois na cozinha. westermann sabe que a cozinha está em boas mãos: «eles não me substituem, são jovens, têm talento e sabem melhorar cada receita».

são oito os pratos de assinatura de antoine westermann que estão na carta desde que iniciou a colaboração com a fortaleza do guincho, em 1998. petra sauer sabe que são imperativos: «há quem venha de propósito para rever os clássicos».

sandra.nobre@sol.pt

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