a banca portuguesa já teria de pagar 9% para se financiar se quisesse ir ao mercado obrigacionista. este é o valor que está implícito no preço de alguns títulos que estão a negociar no mercado, espelhando a desconfiança dos investidores em relação ao país e também face ao sector bancário. numa altura em que cresce o sentimento da inevitabilidade de um pedido de ajuda externa de portugal, o governo admite haver contactos com o fmi – fundo monetário internacional, ainda que garanta que são «habituais».
o pedido de auxílio da irlanda colocou mais pressão sobre portugal e há receios de também a espanha – um país grande demais e para o qual pode não haver dinheiro no fundo europeu – tenha de ser resgatada. quanto a portugal, não é líquido que seja benéfico fazer no curto prazo um pedido de ajuda externa, mas é consensual que o governo precisa urgentemente de dar provas de que consegue implementar as medidas anunciadas e controlar as contas públicas.
o pedido de auxílio da irlanda surgiu sete meses após o da grécia, mas o anúncio, ao contrário do esperado, não acalmou os mercados, com a percepção do risco em relação a portugal (e espanha) a manter-se em alta (ver gráfico).
banca penalizada
com a escalada do risco-país, e numa altura em que há dúvidas sobre a capacidade de crescimento da economia portuguesa, os bancos continuam a ter dificuldades no financiamento. há meses que não vão buscar dinheiro sob a forma de obrigações e o mercado interbancário mantém-se fechado. neste cenário, o bce – banco central europeu tem sido a tábua de salvação, mas se, como se espera, a instituição começar, no final do ano, a retirar as ajudas, o sector pode ficar numa situação ainda mais complicada.
em outubro, a banca portuguesa devia 40 mil milhões de euros ao bce, cerca de 3,5 vezes mais do que no homólogo.
a título de exemplo, e de acordo com os preços a que as obrigações de dívida sénior estão a transaccionar no mercado secundário, o bes teria hoje de pagar 9% para se financiar a quatro anos, bem acima dos 6% exigidos à república. o bcp, a três anos, teria de pagar 8%, mais 2,3 pontos do que o estado, e o bpi, a dois anos, 5,7% – acima dos 5% cobrados ao estado. face a janeiro, estas obrigações viram o seu preço (que varia na relação inversa às taxas) cair entre 5% e 20%, oscilações elevadas em termos históricos.