O horror dos entusiasmos alheios

Há alguma obrigação de comer 12 passas em cima de uma cadeira, com dinheiro no bolso, à meia-noite da passagem do ano? É que não consigo entrar no entusiasmo dos meus amigos.

Não há aqui regras de etiqueta. Apenas superstições, que uns seguem por superstição, outros por tradição, alguns por brincadeira, e muitos simplesmente não seguem.

As superstições de ‘Fim de Ano’ são inúmeras. Há quem ache que as 12 passas, emborcadas de seguida, são garantia de 12 desejos cumpridos no ano novo. Há quem ache que, se o fizermos em cima de uma cadeira, os desejos chegam mais facilmente ao Alto. Há quem ache que dinheiro no bolso, a essa hora, assegura riqueza no ano seguinte. Há quem ache que fazer muito barulho, batendo tampas de panelas, afasta os maus espíritos. Há quem ache que estrear roupa interior dá sorte ao amor durante um ano. Há quem ache, enfim, um sem-número de coisas. Mas se a leitora fizer um inquérito junto dos seus amigos, que cumpriram ou não estes rituais durante outros anos, verá que a vida de todos seguiu impassível o seu rumo, indiferente ao que fizeram na passagem do ano.

Percebo que é preferível não afrontar os amigos nos seus ímpetos festivos. Mas também nada nos pode obrigar a entrar em entusiasmos alheios. Pessoalmente, gosto mais de fazer um balanço do ano anterior, e agradecê-lo à Providência, do que especular sobre o seguinte. Mas o meu marido, ao aproximar-se a meia-noite, desaparece, e só volta quando os entusiasmos da hora arrefecem, para se agarrar com gosto a um copo de champanhe.

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