Mal necessário

É curioso ver como a noite de Natal, no que toca à programação televisiva, é o chamado mal necessário.

é uma chatice, mais valia não existir, e é com este espírito que as generalistas encaram a questão. sabendo-se, à partida, que poucos serão aqueles que estarão de olhos postos no ecrã com um mínimo de atenção, a regra passa por um apelo pouco convicto a um público infanto-juvenil, mesmo nos filmes que são escalados para as duas da manhã.

alinham-se uns programas de circo ou uns filmes com bonecada e está feito o serão, sem grandes preocupações. curiosamente, para a noite de passagem de ano, a aposta é forte e habitualmente inclui as finais dos concursos ou reality shows que andaram a arrastar-se durante meses.

mas entre um momento e outro, é sabido, não impera a concentração em torno da televisão. e não deixa, portanto, de ser estranho, que seja para esta época de razoável alienação dos ecrãs e de fartas distracções por todo o lado, de muita gente de férias e ausente da rotina caseira, que esteja condensada uma fatia considerável dos debates entre os candidatos a presidente da república. quase se diria que o objectivo era mesmo que os mesmos passassem despercebidos. ora isto, num momento histórico em que parte considerável de uma campanha se joga na televisão, não deixa de pôr em causa a própria pertinência dos vários confrontos a dois, passando uma imagem cada vez mais apagada da política nacional.

a sensação que fica é a mesma emprestada pela programação natalícia: parece um mal necessário, uma chatice que tenha de se dar palavra aos candidatos em vez de recorrer à boa e fiel fórmula de telenovelas + concursos + cantorias + noites de expulsões. seria tudo tão mais fácil se todos os dias fossem fins-de-semana normais…