frustração
obama não deverá fazer um 2.º mandato
três presidentes, três situações complexas.
falemos de um primeiro caso: estou convencido de que não vai haver segundo mandato para o actual presidente. não, não me refiro a portugal, mas aos estados unidos da américa. a eleição ainda vem longe – mas, simultaneamente, está perto. será já no próximo ano que barack obama vai ter de tomar essa decisão.
o tempo voa. e como os mandatos presidenciais nos eua são só de quatro anos, ainda parece mais rápido. além disso, há eleições de dois em dois anos para eleger uma parte do congresso, pelo que se está quase sempre em campanha eleitoral.
as eleições legislativas de há dois meses abalaram a maioria democrata que existia ma câmara dos representantes, onde passaram a dominar os republicanos.
e, também no senado, tendo mantido a maioria, os democratas viram a sua supremacia reduzida ao mínimo.
todos recordamos as enormes esperanças despertadas pela eleição do actual presidente americano. ora, passados dois anos, a frustração instala-se cada vez mais.
mas era praticamente inevitável.
quem tenha um mínimo conhecimento das realidades, ao ouvir as promessas de obama durante a campanha eleitoral tinha desde logo uma certeza: ou acontecia uma revolução a seguir às eleições ou mais de metade das promessas não seriam cumpridas. exemplo? o encerramento de guantánamo. outro exemplo? as considerações sobre o esforço de guerra no iraque e no afeganistão…
obama conseguiu agora alguns acordos importantes com a nova maioria do congresso. mas a sociedade norte-americana não mudou com a sua eleição. nem um pouco. ele ganhou também por causa do surgimento da crise do subprime em 2008, mas não conseguiu ganhar à crise. há sinais contraditórios – e os que dão razões de esperança são ainda tímidos.
inquietação
dilma vai ter muitas dificuldades para vencer
outro caso: não vão ser fáceis os tempos para quem ocupa o palácio presidencial. falo do palácio do planalto e de dilma rousseff.
pode ser que me engane, mas não vai ser fácil para a ‘presidenta’ (no dizer da própria) do brasil terminar este primeiro mandato. estamos perante um caso merecedor de muito estudo pela ciência política, em que um presidente cessante faz mesmo eleger um sucessor.
tudo o que se sente e pressente da parte de dilma rousseff transmite muita fragilidade. tem um currículo de combatente? sem dúvida. tem provas dadas de capacidade política? seguramente. mas daí a ser líder – e líder de um país com a dimensão do brasil – vai uma distância considerável.
escreve estas palavras quem sabe quanto é importante – mal ou bem – ser-se dono da sua própria legitimidade. e ter-se legitimidade significa, também, ser-se escolhido por causa do próprio e não por causa de outrem. aqui, a questão que se coloca é: se não fosse todo o empenho de lula da silva, alguma vez dilma rousseff teria ganho a eleição?
antes da liderança nacional, põe-se a questão da liderança do seu próprio sector político… alguma vez dilma liderou as forças partidárias que secundaram o trabalho de lula da silva?
sabemos que não. e toda essa realidade far-se-á sentir, de modo inexorável, no exercício das suas novas funções.
a questão não está na menor ou maior simpatia que suscita a personalidade da nova presidente. todos queremos seguir o seu desempenho com o interesse que merece. mas uma apreciação equilibrada e ponderada de tudo o que até aqui aconteceu, incluindo na tomada de posse e nas horas e dias que se seguiram, não permite prognosticar algo diverso de um quadro de muitas dificuldades para este mandato.
agitação
cavaco silva não costuma brincar em serviço
se faço previsões políticas tão sombrias para esses dois presidentes de sistemas presidencialistas, o que pensar do que esperará um recandidato à presidência num dos poucos sistemas semi-presidencialistas do mundo?
sim, agora refiro-me a aníbal cavaco silva. os últimos dias não têm sido fáceis – e tudo leva a crer que os próximos também não serão. os seus adversários perseguem-no com um assunto da sua vida privada que ganhou espaço político por estar relacionado com o bpn.
o caso do bpn parece querer tomar conta da campanha eleitoral. é uma pena. se há campanha com circunstâncias que justifiquem um debate sobre as soluções a dar aos problemas com que portugal se depara é, exactamente, esta para a presidência da república.
perguntava-me fernando rosas, esta semana, num debate na tvi 24 (em que também participava medeiros ferreira), se eu entendia que esse assunto do bpn e das acções de cavaco silva não devia ser tratado.
repito que se pode compreender à luz dos hábitos dos actuais sistemas políticos. ou melhor: pode ser tratado, com respeito e elevação, mas não fazendo dele quase o único tema de campanha, tirando o lugar a tanta matéria importante para o futuro de portugal.
há quem sustente que cavaco silva não foi hábil no modo como respondeu aos ataques que foram feitos… será assim? o que era ser hábil? e a questão que colocou, sobre o trabalho da nova administração do bpn, é justificável ou não?
francisco lopes ‘deu o mote’ e, logo de seguida, defensor moura revelou-se quase um sniper ao serviço da estratégia do candidato do partido socialista e do bloco de esquerda.
quando parecia que iria desenvolver uma campanha partidariamente desenquadrada, eis que intervém de um modo que, certamente, agrada à generalidade dos socialistas. aliás, dá que pensar, agora, que não terá sido por acaso que não se ouviram protestos de pessoas ou estruturas do ps contra o facto de um deputado do grupo parlamentar socialista se candidatar à margem da estratégia oficial do partido.
outra consequência da actuação de defensor moura foi o esvaziamento da candidatura de fernando nobre, que quase desapareceu do ‘palco principal’.
assim sendo, manuel alegre subiu o tom. resta saber que consequências eleitorais terão todos estes ataques a cavaco silva. ao fazerem as afirmações que lhes ouvimos sobre a compra e venda de acções, manuel alegre, francisco lopes e defensor moura tentam atingir a pessoa de aníbal cavaco silva na correcção de uns procedimentos por si utilizados enquanto cidadão, na sua esfera privada.
escrevi aqui, na passada semana, que defendo e defenderei cavaco silva quanto à sua integridade e estou convencido de que a generalidade dos portugueses continua a pensar o mesmo sobre o actual presidente.
será que toda esta agitação poderá fazer crescer eleitoralmente os adversários de cavaco silva a um ponto que imponha uma segunda volta? será que os portugueses darão importância ao que estão a ouvir sobre o seu presidente?
ninguém sabe, mas de um ponto estou certo: se os adversários de cavaco silva vão continuar nesta linha, o alvo dos ataques não se vai mover – vai continuar igual a si próprio. e, continuando igual a si próprio, cavaco silva já saberá muito bem como reagir ao que pode esperar-se para os próximos tempos. ele, que não deixa nada ao improviso, muito menos o fará numa matéria e em circunstâncias como estas. se tivesse motivo para alguma preocupação – o que não acredito –, não se teria recandidatado. se o fez, é porque está seguro quanto ao que se passa e quanto ao que pode suceder, agora que se aproximam os dias da campanha oficial.
cavaco silva não é dado a brincadeiras. muito menos ‘em serviço’.