A prisão das imagens

O Centro Português de Fotografia teve em 2010 o seu melhor ano em termos de público, recebendo mais de 50.000 visitantes. Em 2011, uma boa parte das exposições vão ter como tema o Porto, a cidade-sede da instituição.

a história da cadeia da relação, no porto, ofusca por vezes o actual papel do edifício. o local onde esteve preso o escritor camilo castelo branco e ana plácido, por adultério, em 1860, alberga desde 1997 o centro português de fotografia (cpf). as obras de adaptação lideradas pelos arquitectos eduardo souto moura e humberto vieira não descaracterizaram a concepção original – e por isso há salas que mantêm o nome de enxovias e resistem ainda as pesadas portas de ferro -, mas o seu papel é hoje bem diferente.

o cpf tem como face mais visível as exposições temporárias, mas muito mais se passa aqui. «somos um arquivo de âmbito nacional com a competência de salvaguardar o património fotográfico e, sobretudo, difundi-lo o mais possível», explicou ao sol o director, bernardino castro. o património fotográfico do cpf inclui 67 fundos e colecções e várias imagens são disponibilizadas para exposições externas, nomeadamente as pertencentes à colecção nacional de fotografia. este é um conjunto de documentos de interesse nacional, que continua a crescer com trabalhos de fotógrafos nacionais e internacionais e fotografias históricas.

o ano que agora termina foi, em termos de visitantes, o melhor de sempre do cpf, por larga margem. sem contabilizar ainda o mês de dezembro, passaram pela cadeia da relação 52.203 pessoas, quase o dobro do ano anterior. a mostra ‘resistência. da alternativa republicana à luta contra a ditadura’, integrada nas comemorações do centenário da república, foi a principal responsável pelo aumento de afluência, tendo ficado em exibição mais dois meses que o previsto. «o sucesso deve-se, essencialmente, à adequação do conteúdo expositivo aos programas curriculares das escolas. é uma exposição de grandes dimensões, baseada em imagens de arquivos, o que se enquadra na nossa missão actual», esclarece.

este ano será difícil repetir o sucesso, até porque as restrições orçamentais obrigaram a «reequacionar determinadas soluções e adiar outras». o porto será o centro das atenções das objectivas, nomeadamente através dos olhares distintos de inês d’orey (prémio novo talento fnac fotografia 2007) e de aurélio da paz dos reis (pioneiro do cinema português, em 1896).

a partir de 12 de março, ambos apresentam fotografias de interiores do porto separadas por cerca de um século. por seu lado, ‘o avesso do lugar’ (9 jun. – 25 set.) é um outro olhar sobre o hospital de s. joão. também o ‘vale do douro’ merecerá especial atenção, com a continuação do ciclo apresentado pelo arquitecto mário joão mesquita: a última exposição denomina-se ‘por terra de sol e dor’ (29 jan.). no próximo dia 15, joão trabulo mostra imagens associadas ao premiado filme sem companhia, rodado numa prisão de alta segurança, e que será exibido na fundação de serralves na inauguração.

estão ainda previstas parcerias com o instituto português de fotografia e com a associação cultural estação imagem, de mora, que promove o único concurso de fotojornalismo em portugal. no final do ano, realiza-se uma «grande exposição» com imagens dos fundos e colecções do cpf.

em permanência, pode conhecer a colecção da instituição e integrar uma das visitas guiadas (gratuitas) que decorrem de terça a sexta-feira, sem hora marcada.

para conseguir uma maior aproximação ao público, as inaugurações têm coincidido com actividades próximas, como as feiras francas, o mercadinho dos clérigos e o mercado de porto belo, a dois passos.

centro português de fotografia

edifício da cadeia da relação
campo mártires da pátria, porto
tel. 222 076 310
www.cpf.pt

de 3.ª a 6.ª das 10h às 12h30 e das 15h às 18h
sáb., dom. e feriados das 15h às 19h