Dias mais longos aproximam-se e com eles efeito anti-depressivo

Começa a escurecer mais tarde. A época das festas acabou e com ela parece ter ido também a razão pela qual as pessoas até gostam do Inverno: terem um Natal com frio.

esta é a estação do ano mais mal-amada – os dias são chuvosos e escuros e a luz solar faz falta. mas agora, não fosse a chuva, esta via-se até mais tarde, como confirma o provérbio ‘até ao natal salto de pardal, do natal a janeiro salto de carneiro’.

a psicóloga rita marta explica que a luz do sol tem influência no humor ao nível da bioquímica: «actua na estimulação da melatonina, que se pensa interferir com outros neurotransmissores, ao provocar um efeito anti-depressivo».

a especialista salienta até que nos países nórdicos, em que as noites no inverno são mais longas e há mais depressões, se faz terapia de luz.

a nível psíquico e cultural, o escuro está associado a um humor mais carregado. rita marta lembra que a própria poesia utiliza metáforas como ‘andava ensombrado’. por isso, o inverno «convida a um recolhimento interno, a um virar para dentro, que é também um confronto com as questões pessoais, as tristezas, os medos». tal como a noite, «na sua ausência de luz, convida ao dormir e ao sonhar, o inverno pode ser encarado como a noite do ano».

para muitos, janeiro é um mês difícil porque significa o início da estação mais fria do ano. a psicóloga diz que, à medida que os meses passam e aparece a perspectiva da primavera em fevereiro e março, «também o humor das pessoas se torna mais radioso».

o aumento do número de horas de luz e a diminuição do mau tempo são convites para sair «de casa e de si mesmo, para encontrar os outros».

no mesmo sentido, quanto mais longa for a noite maior é a tentação do recolhimento e de dormir.

na cama antes da meia-noite

ângelo soares, neurologista, diz que a luz do sol tem uma influência fundamental no sono e explica que, «quando entram os primeiros raios pela janela, a pessoa acorda e começa a funcionar; quando ele se põe, desencadeiam-se actividades que induzem o sono. a melatonina é segregada durante a noite».

para este especialista, o tipo de sono varia conforme as horas a que se vai dormir: «o sono nocturno é mais reparador». e acrescenta que o ideal é adormecer entre as 23h e as 24h e acordar entre as 7h e as 8h, «independentemente das estações do ano».

por outro lado, o autor do livro o sono: efeitos da sua privação sobre as defesas orgânicas garante que o sono não depende só de horários: «o stresse, o tipo de vida, a dieta alimentar e os abusos em qualquer destes factores têm um efeito predominante sobre o sono reparador e satisfatório».

além disso, ângelo soares afirma que, ao deitar, «os dias da semana, bem como os do fim-de-semana, são iguais e devem ser tratados da mesma forma, sem diferenças».

quanto à influência da luz na disposição, prefere falar de dois tipos de pessoas ou, neste caso, de animais: «as chamadas cotovias gostam de se levantar e de se deitar cedo, sendo mais activas às primeiras horas da manhã». as tipo mocho preferem deitar-se e levantar-se tarde, «sendo mais rentáveis ao fim da tarde». e estas tendências têm mais efeitos sobre a disposição do que a luz solar.

joana.andrade@sol.pt