Dormir numa galeria de arte

Com 300 obras de arte a decorar-lhe os quartos, salas, bares e restaurante, o Lutetia, em Paris, contaria as histórias de um século se as suas paredes tivessem ouvidos. Artistas, políticos e comerciantes fazem parte da vida deste hotel.

assim que entramos, cruzamo-nos com charlie watts, o baterista dos míticos rolling stones. talvez seja presságio das estórias que o histórico hotel lutetia, no parisiense bairro de saint-germain-des-prés tem para contar. no coração da paris artística e literária, serviu de inspiração, de casa ou de ponto de encontro a matisse, antoine saint-exupéry ou picasso. foi aqui que de gaulle passou a noite de núpcias, em abril de 1920. e a actriz catherine deneuve chegou a chamar-lhe o seu segundo escritório.

sobreviveu às duas guerras mundiais. na primeira abrigou militares e cedeu quartos à cruz vermelha para cuidar dos feridos. na segunda recebeu militares alemães da gestapo responsáveis pela contra-espionagem. se as suas paredes tivessem ouvidos, saberiam de cor as teorias dos grandes pensadores das letras e das artes do século xx, como phillippe hiquily ou thierry bisch.

centenário, assume-se como o primeiro hotel art déco da capital francesa e como o maior da margem sul do sena. inaugurado em dezembro de 1910, surge em plena belle époque, embora ainda mantenha na fachada reproduções de videiras e uvas, alusões às vinhas que ali existiram.

resultado da vontade dos donos dos armazéns le bon marché – que naquela altura queriam ter um local onde acomodar os clientes e fornecedores que viajavam de longe – foi daí que vieram as mobílias que permanecem nas salas, quartos e zonas comuns. hoje o le bon marché é o primeiro vizinho a impôr-se quando, na varanda da suite europa, espreguiçamos o olhar pela ponta da torre eiffel ou pela cúpula dourada do palácio dos inválidos.

esta é uma das nove suites redondas: acompanha a curvatura do edifício. dedicada a mimmo jodice, está decorada com seis fotografias a preto e branco do fotógrafo napolitano, que dão um toque nostálgico ao quarto. do tecto branco trabalhado e paredes cinzentas sobressai o veludo das cadeiras, sofás, almofadas e mantas, em bordeaux, dourado, bege e preto. e as linhas art déco dos móveis fazem-nos recuar aos loucos anos 20.

porém, a suite europa não é a jóia da coroa do lutetia. é na arman suite que encontramos 130 metros quadrados de pura arte. é a maior de todas e deixa-nos viajar entre o calor do continente africano e a harmonia da música clássica. com dois quartos, um é dedicado a áfrica, engala-nado com peças trazidas dessas latitudes. no outro e nas salas, erguem-se elementos decorativos esculpidos pelo próprio arman. nas cadeiras e mesa, os pés são violinos de bronze verde. e o sofá usa as respectivas caixas. na cabeceira da cama, avaliada em 100 mil euros, a madeira tem o formato do mesmo instrumento.

juntas, integram o portefólio de 300 peças espalhadas pelo hotel, tornando-o numa autêntica galeria de arte. muitas estão expostas no lobby, nos corredores ou no bar lutetia, onde sabe bem o final da tarde a tomar chá ao som de um concerto de jazz. há ainda pinturas e desenhos no restaurante le paris, com uma estrela michelin, e na intimista brasserie lutetia.

ana.serafim@sol.pt

como chegar

tap, air france, aigle azur e companhias low cost voam para paris com várias frequências por semana.

quartos

o hotel tem 231 quartos, 60 dos quais suites. com a promoção de inverno em vigor há preços a partir de €200/ noite. ver site.

o que fazer

ficar horas à janela a ver os telhados de paris, entreter-se a apreciar as 300 peças de arte do hotel, visitar a loja da hermès instalada na antiga piscina interior do hotel, circular pelas esplanadas e lojas do bairro de saint-germain, visitar os monumentos da cidade como a torre eiffel, o museu d’orsay e do louvre ou a catedral de notre dame, ouvir jazz no bar lutetia.

hotel lutetia; 45, boulevard raspail, 75006 paris – france;

tel. +33 (0) 1 49 544 646 +33 (0) 1 49 544 646

www.lutetia-paris.com