O ridículo

É um enigma o que passa pela cabeça dos concorrentes do Quem Quer Ser Milionário – Alta Pressão.

enquanto respondem, claro, ao revelar frequentemente uma incapacidade gritante de manifestar qualquer fio de raciocínio, qualquer lógica que mesmo perante uma pergunta para a qual não se sabe a resposta se possa optar por uma alternativa com um mínimo de sentido. mas é um enigma sobretudo num momento bastante anterior – aquele em que concorrem. por não se perceber como é que a maioria, num qualquer exame de auto–análise, se acha detentor de uma cultura geral capaz de levar os dez mil euros em jogo.

ou talvez não seja essa a questão. talvez a única coisa que realmente interesse seja a conjugação da atracção quase animal de aparecer na televisão e, quem sabe, ganhar uns tostões. o preço a pagar pelo falhanço em canal aberto, numa fugaz exposição ao ridículo, não chega aos calcanhares de trocar um par de graças com josé carlos malato e voltar para o trabalho, no dia seguinte, como o herói da semana. mesmo que se diga em voz alta, para toda a gente ouvir, que o coração tem duas cavidades – os ventríloquos –, que rococó é um estilo musical, que frança não faz fronteira com a alemanha ou que sherlock holmes é uma criação de conan o’brien…

se os concursos de talentos se valem igualmente deste engodo de cinco minutos de televisão como a maior das conquistas da vida moderna mas acenam, ainda assim, com uma vaga promessa de futuro, nestes concursos de cultura aleatória a única coisa em cima da mesa – além do prémio – é mesmo a exposição. mas também não ajuda quando há exemplos como fátima lopes: quando um concorrente de agora é que conta respondeu hong kong à pergunta «qual é a capital da china?», a apresentadora informou-o que não estava a perguntar-lhe a capital do japão. pois…