Mercearias: CCP pede vigilância à Autoridade da Concorrência

Aposta da Jerónimo Martins e da Sonae no pequeno comércio é «natural» e cria «dinâmicas inovadoras», mas pode reforçar quotas de mercado e agravar concentração, diz Confederação.

«Vamos ver se é uma lufada de ar fresco, se é colonização». É assim que o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, analisa a aposta da Jerónimo Martins e da Sonae nas mercearias e no comércio de proximidade, agora anunciada. E pede mais vigilância à Autoridade da Concorrência (AdC).

Depois de o grupo da família Soares dos Santos ter divulgado o projecto Amanhecer – acordos de cooperação comercial com proprietários de mercearias de bairro, através da insígnia grossista Recheio –, também na semana passada a Sonae lançou a Meu Super. A nova marca dá nome ao franchising pensado para pequenos espaços comerciais (entre 150 e mil m2).

«Teoricamente, em relação aos operadores que facturam mais do que um certo volume estabelecido na lei, a AdC deveria analisar todas as suas operações de expansão», diz Vieira Lopes. «Não advogamos a perseguição a nenhum operador, independentemente dos formatos que tenha. Mas é evidente que há operações que deveriam merecer atenção», adverte. «Preocupa-nos se não reforça os principais operadores e se não é um processo que vem dar volta às quotas de mercado», sobretudo porque em Portugal «a concentração neste mercado já é alta».

Questionada pelo SOL, fonte oficial da Autoridade da Concorrência escusou-se a comentar, afirmando apenas que o regulador «continua a acompanhar a evolução do mercado», depois de, em 2010, ter analisado a relação entre produção e distribuição no retalho alimentar.

Ainda assim, o responsável da CCP também reconhece que a iniciativa dos dois maiores grupos retalhistas portugueses é «uma inevitabilidade» e é «normal», porque «o comércio de rua tem tendência a recuperar». «É natural que os grandes grupos, com meios financeiros para isso, entrem [neste segmento]», já que «os formatos que têm atingiram um certo grau de esgotamento». E «podem introduzir dinâmicas inovadoras». Mas vai travar o fecho de pequenos espaços? «Só o futuro o dirá. Os bons comerciantes, nesse ou noutro formato, vão subsistir e o comércio independente nunca vai desaparecer», diz.

 

ana.serafim@sol.pt

 

 

*Com João Paulo Madeira