ao sol recusa-se a falar sobre o assunto, mas confessa que «a haver um convite» só não o aceitaria por falta de tempo. isto porque o médico considera o programa norte-americano «muito interessante», faltando-lhe apenas «uma componente didáctica mais forte» no que diz respeito à alimentação.
«nesse sentido, acho que the biggest loser poderia ser mais completo», afirma póvoas, para quem a carga de exercício físico imposta aos concorrentes é exagerada. «o conhecimento que tenho do programa é apenas televisivo, mas assusta-me em termos médicos o exercício extremamente rigoroso que vejo». o médico refere que as aulas em ginásio orientadas por dois treinadores podem até trazer «riscos cardiovasculares» para os obesos.
jorge mota, do centro de investigação em actividade física, saúde e lazer, da universidade do porto, acrescenta os problemas articulares. «são pessoas que, devido ao seu peso, já têm uma sobrecarga nas articulações. o exercício intenso pode agravar essa situação».
por seu lado, alexandra bento, presidente da associação portuguesa de nutricionistas, realça as capacidades físicas dos obesos mórbidos que surgem no programa de televisão emitido pela sic mulher, na sua versão original. «são sujeitos a exercícios muito rigorosos, apesar do seu peso. é impressionante assistir ao que fazem, mas não questiono que aquele desporto seja feito sem cautela».
para a nutricionista deveria também ser dada uma «maior importância» aos bons hábitos alimentares. «não queremos que os obesos sejam grandes perdedores de peso, mas que ganhem um bom estilo de vida baseado numa nova alimentação». é que, segundo alexandra bento, perder peso «é importante, mas mantê-lo é de uma importância extrema». e de regresso a casa, esse trabalho diário «é muito difícil de assegurar», alerta fernando póvoas.
o médico diz, no entanto, que os concorrentes portugueses não sentirão um choque tão grande quando confrontados com a vida fora deste programa que incentiva a perda de peso, em troca de dinheiro. em portugal, «não existem obesos daquele calibre [a concorrente mais pesada nos estados unidos tinha 216 quilos], além de que a cozinha norte-americana é das mais tenebrosas do mundo». e refere como principais ingredientes as carnes e as gorduras saturadas «em doses muito grandes», que contribuem para que naquela nação se dê o maior número de enfartes e acidentes vasculares no mundo.
cinturas acima dos 100 cm
por outro lado, nos estados unidos há o hábito de se concentrar as principais refeições em dois momentos – a manhã e a noite –, quando estas deveriam ser distribuídas ao longo do dia. «uma alimentação sem horários, conjugada com muita televisão, só poderia originar grande quantidade de obesos», salienta.
em portugal, metade da população sofre de excesso de peso ou de obesidade, mas a obesidade mórbida – designada por obesidade de grau iii e que implica um índice de massa corporal superior a 40 – afecta apenas 0,7% da população.
para as mulheres, isso significa também que têm um perímetro de cintura superior a 88 centímetros – medida que indica a obesidade – e, no caso dos homens, superior a 102 cm.
fernando póvoas sabe que a sociedade «é muito punitiva» em relação a estas pessoas, que têm dificuldades em sair com os amigos, conviver ou casar. por isso, acredita que o dinheiro não é o mais importante quando se ganha num programa de televisão como este, mas «o reforço da auto-estima» depois de terminado o concurso.
para alexandra bento, o que move os concorrentes também não são os dólares a mais que possam vir a ter na conta bancária, mas o facto de passarem semanas em ambiente controlado e motivados pela competição. «são colocados à prova, numa balança, em frente aos colegas e perante as câmaras. os familiares podem vê–los em casa todas as semanas. no consultório não há esse peso da responsabilidade», comenta.