Mubarak, o rodapé

Sexta-feira passada, 12h35, rodapé da SIC Notícias: «Última hora: Crise no Egipto – televisão Al Arabiya anuncia que Presidente egípcio abandonou o Cairo com destino desconhecido».

após 18 dias de revolta na praça tahrir, chegava a aguardada notícia da deposição de mubarak do seu cargo. france 24, al jazeera, bbc e sky news interromperam as emissões, foram em directo para o cairo e testemunharam o momento histórico do povo a ouvir os primeiros ecos de um anúncio que carecia ainda de confirmação. mas os três canais noticiosos portugueses preferiram não reagir. seguiram para o directo de alcochete, com o treinador paulo sérgio a teorizar sobre esse jogo de interesse vital, o sporting-olhanense.

daí passaram para o último dia de costinha em alvalade, e daí para as eleições no sporting, e daí para a facturação do benfica, e daí para a conferência de imprensa do fc porto. ao mesmo tempo, fazia-se história aqui ao lado, num dos acontecimentos que mais impacto terá no mundo árabe e, à excepção do rodapé da sic notícias, o que se percebia era a incapacidade de canais que deveriam ser ágeis – e reagir no segundo – de quebrar com a programação corriqueira.

às 13h, só a rtp1 abriu o seu telejornal com a notícia e buscou em directo alguma informação adicional. a sic preferiu a premência de uma escaramuça num hospital em valpaços, a tvi optou por continuar a esgaravatar a notícia (com dois dias) da idosa que esteve morta em casa durante nove anos. e assim, em pouco mais de dois minutos, a conclusão inevitável: se a televisão foi, em tempos, uma janela para o mundo, entregou esse papel de mão beijada à internet.

afinal, a revolução só será televisionada se acontecer em momento oportuno. já a televisão, essa bem que podia ser revolucionada.