Equinócios e Solstícios

«Se há pessoas do meu partido que insistem em cenários de crise política, é porque estão a falar demais», afirmou o líder do PSD. «

oratória

passos faz bem em defender estabilidade

não há ninguém nem para sondar o pcp, nem para sondar qualquer outro partido. ninguém dentro do psd tem mandato para contactar qualquer partido com vista a negociar apoios para abrir uma crise política. não é a agenda do psd, não é o que o líder do psd tem repetido e, portanto, não é aquilo que interessa ao país neste momento», defendeu.

concordo inteiramente com estas palavras de pedro passos coelho. no tempo e no modo. podem ser mais ou menos coerentes com outras ditas tempos antes. nomeadamente, no verão anterior. mas desde as presidenciais o presidente do psd tem mantido uma linha política correcta e coerente, sendo claro na rejeição da possibilidade de uma crise política.

foi o que disse na noite de 23 de janeiro e tem procurado manter, independentemente das oscilações de outros militantes ou dirigentes do mesmo partido.

aliás, se há matéria em que os militantes do psd deviam surgir unidos com o seu presidente é exactamente esta. entre outras razões, por uma muito importante: os portugueses convencerem-se de que é sincera a vontade do psd de não criar agora instabilidade governativa.

todos estamos conscientes de que existe uma dose significativa de aversão ao actual primeiro-ministro por parte de uma percentagem significativa da população portuguesa.

muitos querem a substituição do governo.

mas não podemos ignorar que tivemos muito recentemente eleições presidenciais e que atravessamos uma gravíssima crise económica. por isso, tenho defendido a opção política traduzida nas palavras de passos coelho.

concordo, pois, com o ‘não à crise’. mas como resolver a outra parte das citadas palavras – aquela em que pedro passos coelho disse que há no psd pessoas a falar de mais?

memória

congresso antes de sócrates cair?

permitam-me outra transcrição da imprensa escrita, de 21 de novembro de 2010:

«a suspensão ou expulsão dos militantes do psd que contrariem as directrizes partidárias nos 60 dias anteriores a eleições, apelidada de ‘lei da rolha’, tem efeitos a partir desta quarta-feira, mas a direcção social-democrata não pretende aplicá-la.

contactado pela agência lusa, o secretário-geral do psd, miguel relvas, lembrou que a direcção de pedro passos coelho manifestou a intenção de retirar esta norma dos estatutos do partido no próximo congresso, acrescentando que, até lá, actuará ‘em coerência’ com essa posição que assumiu.

questionado se a norma que impõe a especial punição dos militantes que contrariem as directrizes partidárias nos 60 dias anteriores às eleições presidenciais de 23 de janeiro que começam nesta quarta-feira, dia 24 de novembro não será aplicada, miguel relvas respondeu: ‘não!’.

‘sempre fomos um partido de liberdade’, afirmou o secretário-geral do psd, salientando que, ‘quando houver novo congresso, essa regra sairá’».

por mim, defendi essa norma para os 60 dias anteriores a uma eleição. lembram-se, seguramente, das reacções – mesmo dos que estavam lá dentro e não votaram contra.

e agora? quando será o tal congresso que foi anunciado para este ano por causa dos estatutos? com franqueza, não acredito que vá realizar-se. estou mesmo convencido de que o psd promoverá a substituição do governo antes de qualquer outro congresso ‘laranja’. porquê? porque, quase sempre, é assim a política.

é impossível que a direcção do psd – esta ou outra –, nas actuais circunstâncias de portugal, consiga ultrapassar vitoriosamente um congresso enquanto josé sócrates continuar a ser primeiro-ministro. será, seguramente, impossível.

o cds e o ps têm congressos agora. o psd, se bem se lembram, teve um congresso extraordinário em março de 2010 e outro, ordinário, no mês de abril do mesmo ano.

nestes termos, a mudança de governo será sempre antes do 1.º trimestre de 2012. podem pensar: que previsão tão fácil… olhem que, para além dos juros da dívida soberana e dos dados da execução orçamental, não há motivo mais verosímil para determinar a queda do governo.

história

a sede de liberdade no magrebe

é impressionante a desorientação no mundo perante os movimentos populares que pretendem substituir regimes bem antigos no continente africano.

é evidente que há uns levantamentos populares que suscitam mais curiosidade do que outros nos espíritos ‘independentes’ e ‘progressistas’. mas o fenómeno já é incontornável. e não dominam as imagens de bandeiras americanas a serem incendiadas nem gritos contra o imperialismo. ajudará o facto de estar na presidência dos estados unidos uma personalidade como barack obama?

seguramente que sim. mas está muito para além disso. no geral, não existem reivindicações de sociedades teocráticas. ouvimos reclamar, acima de tudo, por liberdade, pelo fim de regimes autoritários, pelo derrube de quem está há décadas no poder.

quando no cairo, começaram os efeitos do que aconteceu na tunísia, chamei a atenção, de modo indirecto, para o ‘entusiasmo’ e a ‘excitação’ com que eram acolhidas aquelas manifestações por todos aqueles que olhavam para o egipto, sobretudo, como ‘amigo do ocidente’.

agora começaram a perceber que não é bem como pensavam. não é por terem descoberto nesta altura o modo de vida ocidental – como aconteceu com os países que, até 1989, estavam fechados ao mundo, para lá do muro de berlim. também não é por rejeitarem o capitalismo ou desejarem que um poder religioso domine o poder temporal. nada disso. querem pluralismo, dignidade, qualidade de vida. querem progresso, querem emprego, ao fim e ao cabo, querem desenvolvimento sustentável.

manifestações de jovens, para além da liberdade, por desenvolvimento, progresso e qualidade de vida? como algumas estruturas e serviços devem estranhar e ter dificuldade em explicar…

lembram-se de tianamen e da coragem dos jovens estudantes em frente de tanques militares? na altura, o regime não caiu. mas, desde então, muito mudou.

os próprios dirigentes das democracias ocidentais devem ponderar bem tudo o que está a acontecer. poderá não ser exclusivo de um continente – mas antes generalizar-se a outros.

p.s. – do sporting, muitos dizem que quase não há dinheiro. ou que falta de todo. mas listas não faltam. e todos os candidatos vão garantindo que descobriram uma solução financeira. será a mesma ou, afinal, há cinco projectos viáveis?

espera-se que expliquem.