e, mais vezes do que seria desejável, é isso que acontece. quer por não haver meios técnicos para ombrear com grandes produções norte-americanas, quer por não haver um sólido leque de guionistas a suportar os mais variados formatos. por isso, não raro torna-se constrangedor perceber onde se quer chegar e testemunhar onde efectivamente se chega. é como ver um candidato ao salto em altura tomar balanço, pedir o aplauso do público, iniciar a corrida e, finalmente, saltar por baixo da fasquia.
a gala da sociedade portuguesa de autores, transmitida pela rtp1 na segunda-feira, foi mais um mau exemplo de querer ter ares de grande espectáculo profissional e passar uma pobre imagem de amadorismo. o que é uma pena. porque de todas as entregas de prémios que a televisão transmite amiúde, esta é aquela verdadeiramente séria nas escolhas e que tem um júri composto por gente realmente habilitada a votar (porque não é obviamente sério que o público com um telefone ao lado do sofá vote em peças de teatro ou filmes que não viu, tornando tudo em concursos de popularidade e não de mérito).
ter como apresentadora a actriz de uma das séries nomeadas (catarina furtado, em cidade despida) e que vai distribuindo comentários ‘muito lá de casa’ ao longo da noite não dá um ar familiar. dá um ar de cerimónia no salão de festas da freguesia. e perguntar aos co-apresentadores de cada categoria «como é que vai o teatro/a música/a dança em portugal?» e seguir depois para a listagem dos nomeados é revelador de uma completa ausência de ideia para a cerimónia. os prémios, e os premiados, mereciam mais.