Resultado Líquido

Se Portugal emitisse hoje dívida externa pagaria mais – numa emissão a três anos, por exemplo – do que aquilo que foi cobrado à Grécia pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional.

não espanta, por isso, que a pressão sobre o país seja cada vez mais insuportável, no sentido de ser accionado um pedido de auxílio em linha com os que – por razões diferentes – irlanda e grécia foram forçadas a pedir. teixeira dos santos e josé sócrates sabem que não haverá muito tempo para continuar a esticar a corda, e acreditam – por uma questão de fé, meramente – que em março a ue aprovará uma flexibilização do fundo de auxílio aos países em dificuldades. até lá, o país vai continuar a saque do investidores, da mesma forma que os portugueses foram (e estão a ser) ‘assaltados’ pelo estado.

do outro lado da barricada está a poderosa alemanha, que também sabe que portugal, o seu estado e os seus bancos (como em espanha), podem estar no limiar do colapso financeiro. o ‘jogo de nervos’ que portugal está a fazer é perigoso, mas também a alemanha pode (vai) sair ‘queimada’ se mais países caírem na zona euro. o país de angela merkel precisa dos mais ‘fracos’ para vender os seus carros e a sua alta tecnologia, e precisa de estados solventes para que a sua banca não se afunde, num dominó de consequências imprevisíveis para a união europeia e, no limite, para toda a economia mundial. é tempo, por isso, de conciliação e visão de longo prazo. portugal tem de aprofundar as suas reformas, causando dores bem mais profundas aos portugueses. só assim os alemães aceitarão ceder, num jogo de compromisso entre ‘teimosos’. os periféricos são, hoje, o ‘elo mais fraco’. mas, amanhã, o ‘elo forte’ também pode cair. não seria, seguramente, o primeiro exemplo histórico de ruína de um ‘império’.

ricardo.d.lopes@sol.pt