brega, a meio do golfo de sirthe entre trípoli e benghazi, foi o palco da primeira ofensiva que confirma que muammar kadhafi não pretende vender barata a liderança.
desta vez, perdeu, no final de um dia de combates dentro da cidade, em torno do campus universitário – brega tem um reputado instituto de engenharia dos petróleos –, do complexo industrial e do pequeno aeroporto que serve a região, encravada entre o mediterrâneo e o grande deserto.
na batalha de brega, kadhafi usou a sua aviação, a arma mais temível para os rebeldes e para a população civil. os revoltosos não dispõem de um exército que possa competir com as forças governamentais em treino e em armamento.
um avião de caça bombardeou, durante a tarde, um grupo de revoltosos, junto dos quais se encontravam os enviados da lusa e da sic à crise líbia. não houve vítimas mas o ataque aéreo teve o condão de operar mudanças na rejeição de uma intervenção armada estrangeira.
«alguém venha acabar com isto», gritava um jovem após a primeira passagem do caça. alguém de fora, da américa, da grã-bretanha, de itália? “não interessa de onde. mas alguém tem que impedir kadhafi de usar estas armas assassinas contra o seu povo!”
o líder líbio anunciou nos últimos dias que vai «lutar até à última gota de sangue» e insiste que o levantamento popular de 17 de fevereiro, a que se juntou parte do exército nos dias seguintes, não passa de obra de «terroristas» e de jovens drogados pela al qaeda.
em benghazi, segunda cidade do país e capital da rebelião, um primeiro ataque das forças governamentais sobre ajdabiya, a 75 quilómetros de brega, teve o efeito de uma chamada à realidade. a euforia revolucionária em que a cidade estava mergulhada nos últimos dias arrefeceu de repente e a população compreendeu a fragilidade da situação no leste.
a mobilização geral de voluntários foi acelerada pelo conselho nacional independente que, desde domingo, assegura a face da líbia «libertada» durante o período de transição.
brega, que armazena e escoa grande parte da produção líbia de petróleo e gás natural, poderia ter sido hoje a primeira etapa numa inversão da situação a favor de kadhafi.
com o ataque rechaçado, porém, os rebeldes pensam que brega pode, pelo contrário, ser o ponto de partida da tão esperada ofensiva final sobre tripoli. os rebeldes, como mostraram hoje na planície desértica de ajdabiya e brega, dispõem de todo o tipo de armamento, de velhas caçadeiras a metralhadoras, passando por obuses, granadas anti-tanque e baterias antiaéreas.
mas, sobretudo, como hoje gritaram os combatentes sob «os dois dedos nos olhos» espetados do céu pelo caça de kadhafi, «alá é grande!».
*leia a reportagem exlusiva lusa/sol na edição impressa do sol de sexta-feira
