comportamentos
distanciei-me muito do psd
não é fácil falar do que aqui vou falar. vou falar da minha ligação a um partido no qual me filiei há 34 anos. e numa altura em que se diz que ele pode ganhar as próximas eleições.
faz agora mais ou menos um ano, teve lugar um congresso extraordinário do psd do qual dei notícia, pela primeira vez, neste mesmo espaço.
já na altura escrevi que tinha muitas dúvidas sobre o estado do partido e considerei essencial que se clarificasse o seu rumo e o seu pensamento sobre portugal.
escrevi, aqui, em 18 de dezembro de 2009: «para convocar um congresso são precisas, pelo menos, 2500 assinaturas. é fácil e vou desencadear esse processo. penso que tenho essa obrigação, eu que já tanto me envolvi em tantos congressos deste partido de cor laranja. ponderei várias possibilidades, desde há muito tempo. mas na vida de cada um de nós tudo devemos fazer para as coisas terem sentido.
pensei muito nisso quando me candidatei às directas há ano e meio e quando me candidatei à câmara de lisboa. nessas diferentes situações, a orientação foi sempre promover a clarificação».
o congresso extraordinário foi há cerca de um ano, mas para mim parece que já foi há dez. talvez seja porque, desde então, aumentou muito a minha distância ou, pelo menos, a minha diferença em relação ao psd.
na altura, expus as razões mais profundas: programáticas e estratégicas.
como disse, é difícil falar desta relação política, pelo que vou avançar exemplos – casos e situações que parecem menores mas que têm muitíssimo significado e profundas consequências.
para mim, é difícil sentir-me próximo de um partido em que muitos dirigentes se sentam na primeira fila das iniciativas de sucessivos líderes, sempre prontos para servir no governo, em empresas, institutos públicos ou até embaixadas.
por vezes, como ainda vi na passada semana, até pessoas com bons percursos na sua vida profissional e/ou com boas qualificações académicas. uma vez chamei-lhes os «técnicos da representação permanentemente disponível». faz muita impressão.
dou um contra-exemplo: fui capaz de estar com manuela ferreira leite disputando um cargo no poder local.
não me disponibilizei nem me sentiria incomodado por não pertencer às listas de deputados ou por não exercer cargos no seu inner circle.
pode ser dito que a política é, quase sempre, aquilo que aqui estou a rejeitar. talvez seja. mas isso não quer dizer que todos o aceitemos e nos subjuguemos. um partido em que as diferenças programáticas e estratégicas não são as razões principais, está errado.
os partidos devem pensar, sobretudo, no que é importante para o país e não no que interessa a alguns dos que nele militam.
dou outro exemplo: cada vez mais os militantes e dirigentes daquele partido fazem mais guerra a companheiros do que a adversários.
dou outros exemplos, de sinal contrário: contestei pinto balsemão mas ajudei-o na disputa de eleições autárquicas em 1982; contestei a liderança de marcelo rebelo de sousa mas estive com ele nos referendos e nas eleições autárquicas de 1997; disputei a liderança com durão barroso mas ajudei-o nas eleições que se seguiram, autárquicas e legislativas. nunca tratei melhor os adversários externos nem me aproximei deles para combater militantes do meu partido.
cumprimentos
na câmara de lisboa há um conluio entre o psd e o ps
o que se passa em lisboa tem passado despercebido, mas tem muito significado político. de modo voluntário, ou não, tem sido ignorado o que terá consequências políticas a vários níveis.
quero dizer, de modo claro, que defendo e pratico linhas de oposição construtiva. especialmente, no estado em que o país se encontra. temos agido na vereação inspirados na linha que marcelo rebelo de sousa seguiu, também como vereador da oposição, em relação a jorge sampaio. mas esse é um plano. outro é o da concertação política, em várias matérias, entre antónio costa, a distrital de lisboa do psd e a chefia da bancada do psd na assembleia municipal. concertação que tem uma agenda, conforme me foi comunicado pelo próprio presidente da câmara e que inclui variadas e relevantes matérias. e que tem um traço comum a reforçá – la: a distância e, por vezes, o combate simultâneo à vereação que lidero.
nada é por acaso. a lista que ganhou, há dias, as eleições para a concelhia de lisboa era encabeçada por um vice- presidente de carlos carreiras, que foi presidente de junta e vereador. desde 2007, a sua ligação à câmara continua na relação profissional que mantém com a gebalis, empresa municipal.
ora, a primeira subscritora dessa lista era uma pessoa que actualmente é vice-presidente do psd. foi vereadora da câmara municipal de lisboa entre 1998 e 2001 e presidente da assembleia municipal de lisboa entre 2005 e 2009. e a esse propósito, quero dizer o seguinte: foi uma adversária assumida das presidências da câmara apoiadas pelo psd e sempre se desfez em simpatias e elogios para com o actual presidente da câmara do ps, antónio costa.
no discurso da tomada de posse de antónio costa, depois das eleições de outubro de 2009, a então presidente da assembleia municipal cessante teve palavras de extrema cordialidade e manifesta simpatia para com o destacado dirigente socialista, que contrastaram fortemente com as que sempre proferiu a meu respeito ou, mais tarde, noutro plano, a respeito de carmona rodrigues.
quem prega, constantemente, a virtude na política não pode caucionar ou promover comportamentos lamentáveis. e aí é que está o cerne da questão.
hoje, o psd tem pessoas, em lugares relevantes, que têm da política uma visão de um combate sem complacência, uma visão de ‘ou eles ou nós’, uma noção de que, acima de tudo, os lugares não chegam para todos e, ou liquidamos os outros, ou não há para nós. aquestão não é a pessoa a ou b – a questão é o silêncio que existe no psd, a cumplicidade que existe no psd, mesmo o apoio que existe no psd a práticas como estas e a outras que são levadas a cabo sem contemplações.
e atenção o silêncio não é só do psd… relativamente a matérias que, com outros, seriam explosivas, aqui existe um total total silêncio por parte do chamado ‘sistema político’. por que será que o ps não fala desses assuntos tão escaldantes?
o que se passou em lisboa nestas questões que parecem menores teve muita influência, a níveis muito elevados e muito graves, na política nacional. e quero sublinhar bem que assim vai continuar a acontecer.
procedimentos
não saí vexado do benfica-sporting
no sporting continua a proliferação de listas. está um pouco como o país. a situação é gravíssima e ninguém se entende. é incompreensível.
a propósito de outras instâncias, atente-se no que aconteceu no benfica-sporting de quarta-feira, a propósito da definição de um rumo e da importância do bom senso. o sporting mudou de treinador, a equipa foi ‘arrumada’ segundo o que parecia óbvio e muito foi diferente.
não conheço bem josé couceiro nem alguma vez me deu razões para o admirar. mas parece ser uma pessoa sensata e ponderada, já com uma considerável experiência, em portugal e no estrangeiro. o que mudou ele na equipa? pôs os melhores a jogar, como matias fernandez ou vukcevic, e não ‘inventou’… por exemplo: não pôs, ao mesmo tempo, dois defesas direitos, como abel e joão pereira. e bastou essa sensatez para a equipa parecer outra, normalizando também o seu jogo, enfrentando o adversário sem receio, jogando para a frente e construindo várias jogadas com princípio, meio e fim.
não ganhámos o jogo, mas jogámos ‘à sporting’. perdemos, outra vez, no último minuto – mas não saí vexado, como tantas vezes me aconteceu nesta época. batemo-nos de igual para igual e demonstrámos personalidade, identidade, vontade de ganhar. gostei de ver. assim faz mais sentido.